O representante para a América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Amerigo Incalcaterra, afirmou que as declarações do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) contra Maria do Rosário (PT-RS), sua parceira na Câmara, “não são apenas uma ofensa contra a deputada, mas também para a dignidade das mulheres e de todas as vítimas de abusos graves como violência sexual e estupro”. Mais: a vice-procuradora-geral da República, Ela Wiecko, denunciou o parlamentar por incitar publicamente a prática do crime de estupro. A denúncia, protocolada nesta segunda no Supremo Tribunal Federal, será analisada pelo ministro Luiz Fux. Vamos lá.
Há assuntos que são de uma chatice quase insuportável pelo muito que trazem de oportunismo, de estupidez, de vigarice ideológica… Esse é um caso. Ao contestar as conclusões realmente inaceitáveis da dita Comissão Nacional da Verdade, respondendo aos petistas, que elogiavam o trabalho, Bolsonaro disparou no último dia 9: “Não saia, não, Maria do Rosário, fique aí! Há poucos dias, você me chamou de estuprador no Salão Verde, e eu falei que eu não estuprava você porque você não merece. Fique aqui para ouvir”.
Vamos ver. Em primeiro lugar, o bate boca do passado não aconteceu “há poucos dias”, mas em 2003, há 11 anos. De fato, Maria do Rosário, então, chamou Bolsonaro de estuprador, o que é, obviamente, um crime contra a honra. E que fique claro: ela interrompeu uma entrevista que o deputado concedia; ela o provocou. Vejam o vídeo.
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A resposta de Bolsonaro à ofensa boçal foi também… boçal! A sequência:
— Eu jamais iria estuprar você porque você não merece.
Ela o ameaçou com uma bofetada:
— Olhe eu que lhe dou uma bofetada!
— Dá, que eu lhe dou outra.
E, na sequência do bate-boca, ele acabou por xingá-la de “vagabunda”. Então tá! Maria do Rosário pode chamar um deputado de “estuprador”? Não! Bolsonaro pode afirmar que o estupro é matéria de “merecimento” — e, o que é mais estarrecedor, nota-se que ele trata essa violência como uma distinção positiva? É claro que não! Está tudo errado.
Outro dia, um desses tontos da Internet, admirador do deputado, afirmou que eu o critico porque não quero ser identificado “com a direita”, como se eu desse bola para o que dizem a meu respeito. Alguns esquerdistas pensam o mesmo. Não! Eu o critico porque discordo dele no conteúdo e na forma. Já disse o que penso a respeito de sua atuação e repito aqui: a exemplo de outros no Congresso, ele não passa de uma personagem, de, como diria Nelson Rodrigues, um “contínuo de si mesmo”.
Também já escrevi e sustento que parlamentares como este senhor, numa ponta, e Jean Wyllys (PSOL-RJ), na outra, são opostos e complementares. Eles se estapeiam verbalmente para atrair eleitores que “odeiam” o outro lado. Um depende do outro. O eleitorado de Wyllys cresceu 10 vezes de 2010 para 2014 (de 13 mil para 144.370); o de Bolsonaro saltou para 464 mil neste ano, contra 120.646 na eleição passada — aumentou três vezes.
Quem ouve Bolsonaro falar fica com a impressão de que ele lutou alguma guerra importante ou teve algum papel relevante no combate à subversão. Uma ova! Nascido em 1955, no prontuário, tem, no máximo, um caso de indisciplina. Wyllys, nascido em 1974, era candidato apenas a celebridade. Não foi ele que descobriu a extrema esquerda; foi a extrema esquerda que o descobriu. O que essa gente representa do Brasil real, de forças políticas realmente relevantes? Resposta: nada. Bolsonaro tem sido eficiente é em criar o clã dos… Bolsonaros: um filho é vereador, e outro, deputado estadual.
É claro que, quando este senhor dispara aquela barbaridade contra Maria do Rosário, por mais eu execre — e execro — a atuação da petista, justamente ao criticar as conclusões absurdas da Comissão Nacional da Verdade, está é ganhando o aplauso de alguns extremistas de saliva — não mais do que isso — que o admiram, quem sabe ganhando uns votinhos a mais, e prestando um grande serviço à esquerda. Aliás, Bolsonaro é o mais importante aliado objetivo de esquerdistas doidivanas e do colunismo mixuruca, que o tratam como um espantalho, como se ele representasse um risco real de retrocesso institucional. Não representa nada! Todo mundo sabe que os militares não dão a menor bola para o que ele diz.
O Conselho Nacional de Direitos Humanos entrou com uma representação contra o deputado na Procuradoria-Geral da República. PT, PCdoB, PSOL e PSB recorreram contra ele no Conselho de Ética. Olhem aqui: já defendi, no passado, o direito que tem Bolsonaro de ter a opinião que quiser sobre os mais variados assuntos. O que testa a nossa tolerância é ouvir coisas que os outros dizem e que julgamos detestáveis. Mas direito de afirmar que estupro é matéria de merecimento, valorando positivamente a violência, bem, esse direito, ele não tem, ainda que seja pura retórica e estridência meio circense. É retórica, sim, mas ele está obrigado a seguir o decoro da Casa.
Se for punido, não derramarei por ele uma única palavra. Não terá sido por delito de opinião, mas por expressar uma opinião delituosa. Esse tipo de comportamento e essas declarações só colaboram com o pior Brasil, num extremo e no outro. Não! O lixo dito por Bolsonaro não é “de direita”. É apenas, repito, uma boçalidade.
Se seus seguidores nunca mais quiserem ler meu blog, paciência. Eu não combato o lixo moral da esquerda porque aceite agressões à ordem constitucional, aos fundamentos da democracia e à civilização. Eu o combato justamente porque não as aceito. E não seria Bolsonaro a me fazer mudar de ideia.