Não tenho visto a novela Duas Caras, de Aguinaldo Silva. Falta de tempo. Se der, verei hoje. Segundo relatos dos leitores e a sinopse, estudantes de esquerda, apoiados por professores idem, invadiram uma universidade privada porque querem interferir na escolha do reitor. A dona do estabelecimento chamou a polícia. Segundo me contam, o discurso dos invasores é marcado pela hipocrisia e pela ligeireza. A ser verdade, é a primeira vez que um produto de massa, entretenimento, não faz a apologia da militância esquerdista. Assisti, até hoje, a uns quatro ou cinco capítulos. Vi que há um professor barbudo e meio sujinho chamado Inácio Guevara, líder dos radicais.
Se for assim como dizem, Aguinaldo Silva inova ao não ceder à patrulha politicamente correta. Do pouco que vi, elogio uma coisa em particular: o autor não submete a linguagem ao filtro do bom comportamento e das boas intenções. Não há didatismo bocó para formar o “bom cidadão”. Ninguém diz: “Racismo é uma coisa muito feia, viu, brasileiro!?” Ele é exibido. Se feio, se bonito, o telespectador julga. O racista não é inteiramente mau. O “discriminado” não é inteiramente bom.
Sempre que uma obra de arte ou um produto de massa, que é só entretenimento, se subordinam a algum outro interesse que não as exigências internas da própria obra, o que se está produzindo é mistificação. Mesmo as inocentes campanhas cívicas a que se dedicam algumas novelas — o chamado merchandising social — são absolutamente irritantes. E, creio, inócuas.
PS: Talvez pudesse assistir a mais capítulos. O problema é aquela música detestável de Gonzaguinha. A cada vez que ele diz “E nós estamos pelaí”, os meus piores instintos se sublevam. Se a novela for como dizem, o tema populista não faz justiça à trama.