Dilma Rousseff, sedizente especialista em energia, juntou seus mágicos em torno do caldeirão e inventou um modelo de intervenção no setor elétrico que resultaria numa queda de 20% no valor das tarifas. A Soberana foi à TV e anunciou a novidade à tigrada. O dado nada irrelevante, nesse caso, é que a presidente deveria ter negociado o seu pacote com geradoras estaduais de energia, como Cesp (São Paulo), Cemig (Minas) e Copel (Paraná). Eu sei que não parece, mas ainda estamos numa federação. Não houve negociação. A “especialista” Dilma não quis conversar com ninguém.
Essas empresas negociam ações na Bolsa de Valores; têm investidores. Só isso recomendaria cuidado. Os maiores acionistas são os respectivos governos estaduais. O prejuízo que seria imposto à CESP, por exemplo, seria gigantesco: da ordem de R$ 5 bilhões. Há mais: o faturamento da empresa despencaria e seria inferior a seu custo operacional. As três empresas não aderiram ao programa. A redução de tarifa tende a ficar abaixo dos 20% (pode ficar em 16,7%), e o governo federal, sob o silêncio cúmplice de boa parte da imprensa, já encontrou os culpados: os respectivos governos tucanos de São Paulo, Minas e Paraná. Não por acaso, as ações da CESP, que haviam despencado quase 40%, a exemplo do que aconteceu com as demais elétricas, subiu mais de 9% diante da recusa.
Atenção! As contas feitas pela CESP são matemática, não feitiçaria. O governo federal não tem o direito legal – como está óbvio – de impor uma solução. É um disparate que Dilma tenha ido à TV, como se fosse a Kim Jong-un (aquele ser estranho que governa a Coreia do Norte) do setor, anunciar seu populismo elétrico com o chapéu alheio. Com que então, para baratear a energia, o governo federal decide quebrar três empresas e mandar o espeto para os governos estaduais – curiosamente, ou nem tanto, geridos por um partido de oposição!? A determinação do governo petista de explodir São Paulo chega a ser comovente pela obsessão.
O secretário executivo de Minas e Energia, Márcio Zimmerman, numa fala espetacular pela delinquência intelectual e política que revela, resolveu fazer política partidária aberta, arreganhada: “A decisão dessas empresas, principalmente as companhias de São Paulo e Minas Gerais, de não renovar seus contratos sob novas bases, é a causa de, hoje, não podermos anunciar o corte na conta de luz pretendido pelo governo federal”. Não se deu por satisfeito: “Essas companhias privilegiaram seus acionistas, e não a população brasileira”.
É estupefaciente! A melhor maneira que empresas têm de cuidar do povo brasileiro, enquanto empresas, é, sim, cuidar dos interesses de seus acionistas. Essa oposição é coisa de vigaristas. Se as geradoras estaduais de energia quebram – como parece ser a proposta de Zimmerman e Dilma –, quem vai pagar o pato é Tesouro dos respectivos estados e, por consequência, a sua população.
Isso já é campanha eleitoral antecipada. O petismo já anuncia uma das “pegadas” da campanha de 2014: “tucanos impediram a queda da tarifa de energia elétrica”. Até uma parcela de mineiros, paulistas e paranaenses, que seriam, indiretamente roubados pelo projeto do governo federal, tenderá a acreditar na mentira.
Até outro dia – o primeiro mandato de Lula –, esse tipo de procedimento contaria com o repúdio quase unânime da imprensa. Mas houve mudanças importantes em vários veículos de comunicação, que resolveram cair de boca no populismo – e não só o elétrico. Não sei, não… Tenho a impressão de que, hoje em dia, o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal correriam riscos… Leiam o noticiário: as evidências – matemáticas, reitero – de que a CESP, por exemplo, quebraria são tratados apenas como versão de um dos lados. Contabilidade virou agora matéria de mera opinião! O que foi parar nas manchetes é mesmo a acusação feita pelo governo federal.
E se essas empresas topassem e fossem para o buraco? Ora, nesse caso, bastaria acusar a incúria dos governos tucanos na gestão do setor, não é mesmo?
Mas que fique a lição ensinada por Zimmerman: empresas que pensam em seus acionistas devem ser satanizadas, levadas ao paredão, desmoralizadas. Seu papel é quebrar para que Dilma possa impor suas generosidades.
Para encerrar
Quando ministra das Minas e Energia, depois da Casa Civil e posteriormente candidata, Dilma parecia ter a receita mágica para o setor elétrico. Falou-se muito e se fez muito pouco. A sua grande ideia para a área, vê-se agora, era quebrar três geradoras estaduais de energia e, por meio de Zimmerman, fazer proselitismo político da pior espécie.
As três empresas deveriam se cotizar para comprar tempo na televisão, em horário nobre, informando, com todas as letras, o que de fato está em curso. Se continuarem no meio do ringue, tomando porrada, ainda acabarão sendo consideradas as culpadas pela lambança que o governo federal está fazendo no setor.