Dilma reuniu 12 ministros nesta segunda-feira e lhes recomendou: falem com os parlamentares, tentem afastar o impeachment. Nesta quinta, quer se encontrar com os governadores, também com os dos partidos de oposição, e, como diria Caetano Veloso, pretende lhes dar uma “abraçaço” — no caso, um abraçaço de afogada. Eles estão com medo. Se pudessem, fugiriam. Têm receio de se contaminar com a inflação, tudo indica, de dois dígitos produzida por Dilma e com a popularidade de um só dígito — hoje, na melhor das hipóteses, em 9%. E, segundo sei, em impressionante corrosão no Nordeste, que sempre foi o bastião do petismo.
Estava difícil manter unida a base aliada quando a situação era bem mais tranquila. Agora, com os índices em franca deterioração, tudo pode ser ainda pior. Joaquim Levy propôs um ajuste da economia que se supunha draconiano. Acabou perdendo força no embate com o Congresso, mas está claro que mesmo ele não significa grande coisa. A crise se afigura bem maior.
Por enquanto, o que deveria ser virtuoso só alimenta o círculo vicioso. Ou por outra: a elevação brutal da taxa de juros, hoje em 13,75% — saberemos amanhã o que o Copom fará neste mês —, por enquanto ao menos, ajudou a aprofundar a recessão, mas ainda não teve efeito sobre a inflação. Está sendo notavelmente eficaz em baixar a atividade, mas, até agora, não se fez sentir nos preços. O que se dá como certo é que o freio imposto pelos juros ajudou a levar o crescimento do ano que vem para algo perto de zero. E há gente responsável que enxerga um 2016 também abaixo do zero — isto é, em recessão.
Não obstante, a presidente Dilma decidiu gravar alguns vídeos para pôr nas redes sociais em que sai em defesa do governo e participa do horário político do PT, que vai ao ar no dia 6. Assim, ela atravessa a rua para ser protagonista de apitaço, buzinaço e, como já disse aqui, de outros superlativos de rechaço, o que rima, mas nunca é a solução.
Dilma procura, em suma, sócios para a crise, mas, convenha-se, anda difícil encontrar até mesmo parceiros para cuidar da governabilidade.
Em entrevista ao Estadão, o ministro Joaquim Levy resolveu abandonar as suas metáforas náuticas — coisa de quem, perdoem-me a associação meio rasa, pode estar à deriva — e partiu para o setor elétrico. Diz que, sem trocar a fiação, pode haver um curto-circuito. Ninguém entendeu direito o que é trocar a fiação, mas dá para saber quais são as consequências de um curto-circuito. Fica-se às escuras.
Referindo-se ao Congresso, afirma num dado momento:
“O protagonismo do Congresso até agora tem sido na direção de enfraquecer a meta, pelas mais diversas razões. O Congresso, por exemplo, transformou o Profut (refinanciamento de dívidas de clube de futebol) em algo muito diferente do que havíamos proposto, sem que fique evidente que vai melhorar alguma coisa para os clubes. Mais uma vez, a sinalização foi de relaxamento fiscal. Podemos algo mais forte, mas não faz sentido que não esteja alinhado com a sinalização que temos recebido”.
Sei não… Parece que o curto-circuito do ministro já pode ter acontecido e que ele foi devolvido ao mar da incerteza. Quando um ministro da Fazenda, de quem se espera uma visão um pouco mais aguda da realidade, mais genérica para ser mais precisa, começa a discutir detalhes de um troço chamado “Profut”, a chance de que já se tenha perdido o jogo é bastante grande.
A verdade mais do que insofismável, que não pode ser disfarçada, é que ninguém mais aposta que Dilma consiga retomar o controle do país. Eu sei que parece drástico o que vou dizer, mas peço que analisem as consequências: a melhor coisa que a presidente pode fazer hoje em benefício do país é renunciar ao mandato, sem esperar jornadas estressantes sobre eventuais pedidos de impeachment.
“Ah, isso muda as circunstâncias objetivas do governo?” Muda, sim. Para voltar às metáforas náuticas de Levy, uma coisa é um navio enfrentar, de forma organizada, uma tempestade das brabas. Outra, diferente, é cada tripulante resolver pôr em prática o seu próprio plano de salvamento, entendem?
Não, o país, felizmente, não vive a situação de convulsão social, de ingovernabilidade. Mas também é certo que Dilma perdeu a governabilidade. Escreveria um epílogo honroso de sua biografia política se abreviasse por conta própria o seu mandato, antes que a realidade o faça, aí, sim, a um custo altíssimo.