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DE QUE LADO ESTÁ O BRASIL?

O mundo começa a acordar para a estúpida política externa brasileira, conduzida por Celso Amorim com o auxílio luxuoso de Marco Aurélio Garcia. No Brasil, os mistificadores, que aceitam o papel de porta-vozes do ministro, resistem em ver o óbvio. A Economist, sempre tão generosa com o governo Lula, cobra num editorial que o país […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 17h05 - Publicado em 14 ago 2009, 06h49

O mundo começa a acordar para a estúpida política externa brasileira, conduzida por Celso Amorim com o auxílio luxuoso de Marco Aurélio Garcia. No Brasil, os mistificadores, que aceitam o papel de porta-vozes do ministro, resistem em ver o óbvio. A Economist, sempre tão generosa com o governo Lula, cobra num editorial que o país adote uma política externa à altura de sua posição e de sua ambição (integra aqui). E lembra que importância no mundo implica o peso de responsabilidades. O título não deixa dúvida sobre o que vem: “De que lado está o Brasil?”. Acho que vocês vão reconhecer boa parte das críticas à política externa brasileira. Leiam o que segue. No fim de tudo, volto para um último comentário.
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A revista começa rasgando elogios ao país. Não é de hoje que ela aprova a política econômica aqui adotada. E não economiza: diz ser este “um formidável momento para ser brasileiro e, especialmente, para ser Luiz Inácio Lula da Silva”, cujo “instinto de conciliação” (por aqui, dizemos “espírito de conciliação”) faz com que seja chamado de “o cara” por Obama (ao menos na versão brasileira; de fato: “He’s my man”) e de “nosso irmão Lula” por Fidel Castro.

A proeminência do Brasil é merecida, diz o texto, fruto do sucesso das gestões de Lula e de seu antecessor, FHC (lá fora, a mentira de que o petista reinventou o Brasil não cola). E vai adiante: uma das dez maiores economias do mundo, o país foi o último a entrar em recessão e parece que agora será o primeiro a sair. A Economist escreve que Lula teve a “coragem” de adotar políticas responsáveis, ignorando os apelos que o PT lhe fazia para dar um calote. E até exagera: “Seu instinto para a racionalidade econômica fez de um protecionista um campeão do livre comércio”. Mais: as políticas sociais tiraram 13 milhões de brasileiros da pobreza. E diz que, a despeito de sua popularidade, Lula resistiu a mudar a Constituição para concorrer a um terceiro mandato. Tá. Não foi bem assim, mas vá lá.

O sucesso interno deu fôlego para o Brasil se colocar como o líder da América Latina, tentando alianças com outras potências emergentes do Hemisfério Sul. E é neste ponto que começa o “mas” da revista à política externa. Essa habilidade de Lula para falar o que o outro quer ouvir fez com que o Brasil fosse se tornando mais influente, mas sem sentir o peso de nenhuma responsabilidade. Visto mais de perto, o legado da política externa de Lula decepciona por causa de sua ambigüidade. E manda ver: “Antes de mais nada, o Brasil precisa decidir o que defende de fato e quais são seus verdadeiros amigos. Ou há o risco de que outros façam esta escolha por ele”.

Os líderes brasileiros, afirma a Economist, têm preferido ver o seu país como uma potência do Hemisfério Sul, líder do mundo em desenvolvimento, tendência reforçada por Lula. Mas o que de fato une esses países? Para grande humilhação do Brasil, a China ajudou a impedir que ele tivesse um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. A Índia fez de tudo para pôr um freio no livre comércio. E este “sulismo” foi assumindo, pouco a pouco, um viés cada vez mais negativo.

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A revista lembra que o Brasil renunciou a armas nucleares, o que é admirável para um país que quer ser grande. Mas, de modo nada admirável, negou-se a assinar protocolos adicionais, embora signatário do Tratado de Não-Proliferação de Armas Atômicas, impedindo a inspeção plena de suas instalações nucleares.

O governo Lula também demonstra pouco apreço pela democracia e pelos direitos humanos no mundo. A Economist lembra que o ministro Celso Amorim considera que a condenação de países pobres por países ricos em razão de abusos nessas áreas é ineficaz e preconceituosa. Entidades de direitos humanos reclamam que o Brasil se alinha com regimes de força como China e Cuba. Lula parabenizou, escreve, Mahmoud Ahmadinejad por sua vitória numa eleição fraudada, comparando os protestos massivos da oposição com a reação de torcedores descontentes com a derrota de seu time num jogo de futebol. A primeira viagem ao exterior do segundo mandato de Ahmadinejad será ao Brasil. Obama, observa o texto, sugeriu a Lula que “use a sua influência” para persuadir  o visitante a interromper seu suspeito programa nuclear. Se o Brasil assumir a presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU em janeiro próximo, o país pode ter de decidir se será preciso aumentar as sanções contra o Irã.

A revista observa que a influência dos EUA na América Latina sofre um relativo declínio, enquanto aumenta a influência de outros países, como a China. Se há o receio de uma nova “Guerra Fria” na região, como temem algumas pessoas no Brasil, o homem que ameaça dar início a esse processo não é Obama, mas um dos mais matreiros amigos de Lula: Hugo Chávez, presidente da Venezuela.

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The Economist observa que Chávez foi, sim, eleito, mas que parece sempre disposto a ignorar o processo eleitoral, criando tensão na região. Lembra que havia o receio de que Honduras fosse mais um país a ficar sob a influência do chavismo, o que resultou num golpe. Agora Chávez ameaça com uma guerra com a Colômbia por causa do uso das bases militares desse país pelos EUA: “Só um paranóico pode imaginar que se trata de uma ameaça à Venezuela ou à Amazônia”. E a revista vai ao ponto: o Brasil expressou seu descontentamento com o uso das bases colombinas pelos EUA, mas silenciou sobre as armas do Exército da Venezuela encontradas com as Farc.

Escreve a revista: “Ninguém espera que o Brasil se comporte como um xerife. Mas é do seu próprio interesse impedir uma nova Guerra Fria na região. A maneira de fazê-lo é não confundir democratas com autocratas, como Lula parece fazer.” Segundo a Economist, o presidente brasileiro precisa fazer uma defesa pública e clara da democracia, “o sistema que permitiu que um pobre torneiro-mecânico” como ele chegasse ao poder. E encerra o editorial com uma pergunta: “Por que os outros países deveriam merecer menos do que isso?”

Comento
Para este blog, como sabem, não há crítica nova neste artigo da Economist. Sobre a frase de encerramento, lembro que já escrevi em algumas dezenas de textos que Lula é resultado da democracia, não a sua causa. Nenhum outro sistema permitiria que alguém como ele chegasse ao poder, muito menos o socialismo, que jamais aceitou que um operário ou ex-operário com pouca instrução atingisse o topo.

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