Ontem eu escrevia aqui o meu livrinho dos insultos, e a TV estava ligada. Faço isso de vez em quando. Na disposição do meu escritório, ela fica bem atrás da tela do computador. Posso ouvi-la sem vê-la se quiser. Se algo me interessa, olho à direta ou a esquerda da tela do computador e, então, acompanho. O barulho não me incomoda. Posso escrever ouvindo um show de rock — se eu fizesse isso, claro! Só não pode ser ao som do Bolero de Ravel, que a minha amiga Barbara Gacia definiu com rara precisão: “É a vuvuzela da música clássica”.
Pois bem. Estava eu aqui batucando os meus insultos, e passava o seriado (é seriado?) Vida Alheia, na Globo. Aí ouço a personagem de Marília Pêra: “Como disse Jean Genet, todo homem mata aquilo que ama”.
Epa! Se é para dar Jean Genet ao povo, o que ele adoraria (hehe), então dêem Oscar Wilde, que preferia os meninos nobres… O verso não é do escritor francês, não, mas do escritor irlandês, do poema “The Ballad of Reading Gaol”. Segue um trecho. Retomo depois:
(…)
Yet each man kills the thing he loves,
By each let this be heard,
Some do it with a bitter look,
Some with a flattering word,
The coward does it with a kiss,
The brave man with a sword!
Some kill their love when they are young,
And some when they are old;
Some strangle with the hands of Lust,
Some with the hands of Gold:
The kindest use a knife, because
The dead so soon grow cold.
Some love too little, some too long,
Some sell, and others buy;
Some do the deed with many tears,
And some without a sigh:
For each man kills the thing he loves,
Yet each man does not die.
Entendo a confusão. No filme Querelle, de Fassbinder, baseado no livro de Genet, Jeanne Moreau canta um trecho dos versos acima, que foram musicados. O resultado é muito bom. No vídeo abaixo, vocês podem ouvir a música na voz de Ingrid Caven. Que diferença isso faz no mundo? Nenhuma! Eu só me contento em chamar o certo de “certo” e o errado de “errado”. Nem que seja pra nada. Não escrevo para ser útil. Escrevo porque me dá prazer.