Conspiração exaltada em prosa. Faltam, agora, os versos
Escrevi nesta madrugada um texto de que gostei muito sobre o futuro do PSDB. Sustento ali que os tucanos parecem não ter percebido que o Brasil mudou — mudança pela qual eles são os principais responsáveis, com o Plano Real. Não há mais espaço para cascata regionalista. Isso já era! O melhor trecho é este: […]
Escrevi nesta madrugada um texto de que gostei muito sobre o futuro do PSDB. Sustento ali que os tucanos parecem não ter percebido que o Brasil mudou — mudança pela qual eles são os principais responsáveis, com o Plano Real. Não há mais espaço para cascata regionalista. Isso já era! O melhor trecho é este:
“Os três últimos presidentes – FHC, Lula e Dilma – são figuras dotadas, digamos, de certa transversalidade, que atravessam fronteiras, em vez de estabelecê-las; sua identidade – o intelectual, o operário e a mulher – servia para furar camadas, para romper nichos, não para criar linhas divisórias. E ISSO É BEM MAIS IMPORTANTE DO QUE PARECE.
E digo também que, se Aécio Neves quer ser presidente, tem de parar de falar como se fosse a encarnação das Minas Gerais míticas. Uma campanha eleitoral bem-conduzida por um eventual adversário faria picadinho dessa estratégia. Mas ele parece cercado de gente que o estimula cada vez mais na direção errada.
Um leitor me manda aqui um texto do jornal “O Tempo”, de Minas. É uma coisa muito impressionante. Segue em vermelho. Comento em azul.
Aécio ganha espaços no PSDB
Aos poucos, o grupo do PSDB ligado ao senador eleito Aécio Neves vai conseguindo se impor dentro do partido e aglutinando forças ao seu redor. Os tucanos mineiros já consideram como “praticamente assegurada” a reeleição do presidente nacional da legenda, senador Sérgio Guerra (PE). Anteontem, numa reunião, 53 dos 55 deputados federais do partido, que estavam presentes, assinaram um manifesto de apoio a Guerra.
Apontei ontem que a tentativa de reeleger Sérgio Guerra na marra tinha a marca de Aécio. Apanhei pra caramba. Eis aí.
Na prática, os parlamentares reduzem o poder de fogo do candidato tucano derrotado à Presidência José Serra, que teria a intenção de comandar o PSDB, e aumentam o de Aécio, que quer se candidatar à Presidência, em 2014. Ao mesmo tempo que se mobiliza em busca da reeleição de Sérgio Guerra, o grupo tucano já tratou de se mover no Senado. Tasso Jereissati (CE) e Arthur Virgílio (AM), que foram derrotados nas últimas eleições, iriam, respectivamente, para o comando do Instituto Teotônio Vilela (ITV) e para a diretoria de relações internacionais do partido.
Como se nota, o “grupo tucano” se organizou para tirar Serra da jogada, ocupando, segundo o jornal, todos os espaços. Tudo meticulosamente calculado. É bom lembrar que Guerra negou com veemência a conspirata.
Ambos são aliados de Aécio e poderiam ser fundamentais nos planos do mineiro de chegar ao Palácio do Planalto. “São indicações que se fortalecem a todo momento dentro do partido”, afirma um tucano, que pediu para não ter o nome divulgado.
Certo!
Para contribuir com a possível candidatura de Aécio à Presidência da República em 2014, os tucanos de Minas Gerais vêm ainda uma outra possibilidade: ceder a secretaria geral do partido, atualmente ocupada pelo deputado federal Rodrigo de Castro. O posto é estratégico no organograma do partido, mas os mineiros sabem que precisarão se aliar com tucanos de alta plumagem de outros Estados para dar a força necessária aos planos de uma candidatura aecista.
Chega-se nesse parágrafo ao estado da arte. Os “aecistas”, segundo o texto, deram, então, um jeito de eleger o presidente, que o jornal dá como certo, e também emplacariam Tasso Jereissati na Fundação Teotônio Vilela e Arthur Virgílio na diretoria de Relações Internacionais. Cabelo, barba e bigode, certo? Mas, vejam vocês, o PSDB de Minas teria de fazer uma “concessão”: abrir mão da secretaria geral. Uau! Depois de levar tudo, então, segundo a lógica do texto, é como se a secretaria geral ainda fosse um direito natural à qual generosamente se pode renunciar. Um gesto de boa-vontade!!!
O próprio Rodrigo de Castro, um dos aliados mais próximos ao senador eleito, já teria admitido a hipótese de deixar a secretaria geral do partido, caso isso seja necessário, em nome de uma composição nacional dentro do PSDB. O parlamentar, entretanto, ainda costuraria algum espaço dentro da executiva nacional do partido.
Que bom! Vitória atrás de vitória.
Em outro texto, lê-se este outro impressionante parágrafo:
Caso Serra resolva espernear e reclamar publicamente de estar sendo minado dentro do PSDB, os tucanos de Minas já têm um argumento na ponta da língua: “Serra nunca disse publicamente que seria candidato a presidente do PSDB. Não é possível que ele esteja repetindo o que fez, quando definiu que seria candidato à Presidência da República, anunciando somente na última hora. Seria novamente uma tática suicida”, ironiza um tucano paulista, aliado de Aécio.
Não é um blog. É o espaço noticioso. No jornal “O Tempo”, Serra não protesta, contesta ou reage, ele “esperneia”. E a justificativa dos tucanos de Minas, segundo se lê, é um mero pretexto, mas exibido pelo jornal como sinal de grande esperteza. Ditas as coisas em outros termos, teria assim: “Se ele espernear, a gente inventa uma mentira porque a gente é muito ladino mesmo!” Mais um pouco.
Nos próximos dias, o PSDB de Minas Gerais deve se reunir para traçar uma “tática de guerra”. Os tucanos do Estado querem demonstrar, com isso, poder de organização e decisão para tocarem as estratégias da corrida presidencial. Na tropa de choque, estão Rodrigo de Castro, o secretário de Governo de Minas Gerais, Danilo de Castro, o governador Antonio Anastasia e o presidente do PSDB no Estado, Nárcio Rodrigues.
Excelente! Segundo o jornal, a “tropa de choque” já está preparada para a “tática de guerra” contra… os adversários internos. Segundo o jornal, isso demonstraria “poder de organização e decisão”. A imprensa de Minas também impressiona, não é mesmo?
O PT deve estar aplaudindo de pé!
Encerro
Volto ao ponto inicial. Isso é tristemente velho e passadista. Desse mato, não sai coelho. Esse Brasil não existe mais. O tempo vai se encarregar de prová-lo. Os que se comportam como torcedores odeiam ler isso. Lamento! O Brasil vai eleger o próximo presidente da República; não será Minas. Nessa toada, o PT caminha para o quarto mandato sem muito esforço.
Quanto ao caráter do que aconteceu anteontem, nada como ler os detalhes na imprensa de Minas. Como diria o jornal “O Tempo”, muita gente esperneou ontem, negando tratar-se de uma ação concertada, que nem mesmo cuidou de certos pruridos éticos. Etá tudo ai.