Conforme eu sempre quis demonstrar, bandidos do Rio foram assaltar em outros lugares. Quem está surpreso?
Que coisa, né!? Apanhei tanto, até de alguns leitores que costumam gostar de mim, por causa das minhas críticas às UPPs do governador Sérgio Cabral e do mago José Mariano Beltrame – que alguns cariocas entusiasmados queriam candidato ao Nobel da Paz (eu juro!!!)! Minha crítica tinha um centro: a tática espalha-bandido. A UPP chega, […]
Que coisa, né!?
Apanhei tanto, até de alguns leitores que costumam gostar de mim, por causa das minhas críticas às UPPs do governador Sérgio Cabral e do mago José Mariano Beltrame – que alguns cariocas entusiasmados queriam candidato ao Nobel da Paz (eu juro!!!)! Minha crítica tinha um centro: a tática espalha-bandido. A UPP chega, ninguém é preso, os marginais mais perigosos dão no pé — os menos continuam a operar o tráfico. De vez em quando, pegam um figurão ou outro do crime para que a vício honre a virtude, e tudo fica por isso mesmo.
Virou modelo! O governo federal vive a elogiar o modo que o Rio tem de combater o crime. Gabriel Chalita, aquele que estreita os albinos da Tanzânia com Castro Alves “num abraço insano” (como diria o poeta), exaltou, nos EUA, o modelo Cabral. Os petistas da academia preferem acusar São Paulo (capital: 27º lugar no ranking de homicídios – isto é, último; estado: 26º lugar – penúltimo) de prender demais!
Pois bem. Leiam o que publicou o Globo na quinta. Volto depois.
Por Antônio Werneck:
Logo na entrada, um cheiro forte de queimado dominava o ambiente, mas era apenas quando se deparavam com a porta giratória trancada em pleno expediente bancário que os clientes eram informados por seguranças armados: o banco não abriu na quarta-feira para que dois caixas eletrônicos, arrombados com maçaricos em mais uma ação ousada de bandidos em Niterói, fossem trocados. O caso aconteceu em um banco na Rua Gavião Peixoto, em Icaraí, um dos bairros mais nobres da cidade dividida agora por duas quadrilhas de traficantes que fugiram para morros do município, expulsos do Rio pela expansão das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
Segundo policiais civis e militares de Niterói, traficantes do Morro da Mangueira tomaram a favela do Morro do Preventório, no bairro da Charitas, enquanto criminosos das favelas do complexo da Maré, expulsos pela chegada de policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope), e de Senador Camará, onde a Polícia Militar tem atuado constantemente, ocuparam o Morro do Cavalão, no Centro de Niterói. Pelo menos 30 bandidos já estariam agindo na cidade e seriam os responsáveis pela onda de violência. Assaltos com reféns, arrastão e roubos de veículos se tornaram normais nos últimos três meses em bairros como Icaraí, Ingá e São Francisco.
O GLOBO procurou a assessoria do governador Sérgio Cabral e do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, para que falassem sobre o assunto, mas eles preferiram não comentar o caso. A Polícia Militar informou que o policiamento será reforçado com a chegada de novos policiais e recrutas. Desde o início da semana, o coronel Maurício Santos de Moraes, do 4 Comando de Policiamento de Área (CPA), vem tratando do assunto pessoalmente. “Pelas informações que dispomos, os traficantes não estão conseguindo os lucros que tinham com a venda de drogas no Rio. Por isso teriam passado a atuar em assaltos violentos”, disse um policial da cidade.
Os reflexos da presença de bandidos do Rio em Niterói já começam a aparecer nas estatísticas de violência. Em Icaraí, por exemplo, em janeiro do ano passado nenhum assalto a residência havia sido registrado na 77 DP, responsável pelo policiamento do bairro. Este ano, também em janeiro, os registros pularam para seis casos, como revelam números divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), da Secretaria de Segurança. Também subiram em Icaraí os casos de assaltos no interior de ônibus em janeiro: de quatro, no ano passado, para nove este ano. As ações são sempre violentas, com o uso de armas de guerra, como fuzis e metralhadoras.
No bairro do Ingá, a violência é percebida em qualquer esquina: restaurantes, bares e pedestres viraram alvos dos criminosos. Um estabelecimento frequentado por promotores, empresários, políticos e professores da Universidade Federal Fluminense (UFF) já foi assaltado três vezes este ano. Na última, 60 clientes ficaram sob mira de quatro criminosos fortemente armados enquanto eram saqueados. O bairro fica na jurisdição da 76 DP (Centro). Pela estatística do ISP, subiram os registros na região de roubos e furto de veículos. Os casos de roubo a pedestres cresceram 45%, pulando de 64 registros em janeiro do ano passado para 93 este ano. “Eles chegaram num carro e uma motocicleta. Eram cerca de seis, todos armados fortemente. Renderam o segurança e invadiram o restaurante. Os clientes foram mantidos reféns, com armas apontadas para a cabeça. Foram muito violentos e fugiram”, afirmou o dono do estabelecimento pedindo para não ser identificado.
Em São Francisco, bairro tradicionalmente residencial, os relatos de assaltos a comércio, invasão de residência e roubo de pedestres são muitos. “Aqui a situação é muito grave. Existe um paradoxo: as pessoas estão deixando de sair e com medo de ficar em casa”, contou um empresário morador de São Francisco.
Na última sexta-feira, um outro restaurante foi assaltado por três homens armados com pistolas, que renderam o segurança e, em poucos minutos, dominaram cerca de 30 pessoas que jantavam. Sob a mira de armas e a todo instante ameaçadas, todas entregaram bolsas, celulares, relógios e dinheiro. O arrastão terminou com uma violenta troca de tiros nas ruas do Ingá. Os assaltantes em fuga teriam tentado roubar o carro de um policial – não identificado – que passava na hora. No tiroteio, um dos bandidos foi baleado e fugiu ferido, buscando refúgio no Morro do Estado, que está ocupado pela Polícia Militar. Até agora ele não foi localizado.
Niterói tem cerca de 500 mil habitantes e lidera pesquisas de qualidade de vida: é a terceira cidade com o melhor índice de desenvolvimento humano (IDH) do país. Em dez anos, saltou da quinta para a primeira colocação no ranking das cidades que têm a maior renda média domiciliar per capita do país: R$ 2.031,18, segundo o Censo 2010. Apesar disso, o investimento em segurança parece diminuir ano a ano: o batalhão da Polícia Militar do município passou de cerca de 1.200 homens, na década de 80, para 700 atualmente.
Voltei
É claro que eu sou favorável a favelas pacificadas, ora! É claro que eu acho que é preciso haver bases da PM — e, se preciso, Forças Armadas — nas favelas. Mas atenção:
a) militares não podem atuar como se fossem seguranças dos traficantes; pacificação que convive com bandidagem é pilantragem;
b) o governo do Rio precisa prender os bandidos; se ficam soltos, cometem crimes. Foi o que sempre escrevi aqui. Considerando que eles não vão arrumar emprego só porque a UPP chegou, se não puderem atuar no Rio, vão buscar outras cidades. Quem está surpreso?