CNBB: a mistura do cocar com a água-benta
Bem, é claro que me vejo tentado a dizer o óbvio — aliás, as muitas vezes em que somos obrigados a evocar a obviedade dão conta da miséria intelectual e, às vezes, moral do país — e lembrar que a Igreja Católica deveria se ocupar de assuntos que dizem respeito ao espírito e a seus […]
Adiante. Quando se superestima a população de índios em Raposa Serra do Sol, fala-se em até 17 mil índios. Dizem alguns moradores de Roraima que conhecem a área que eles não passam de 12 mil. Pouco imposta. Quem quer a expulsão dos arrozeiros da região? O CIR — Conselho Indígena de Roraima —, entidade que admite representar, no máximo, 6 mil índios; vale dizer: ou metade deles ou uma ampla… minoria! O outros querem os fazendeiros lá, ocupando a miserável parcela de 0,7% de espantosos 1,7 milhão de hectares.
Desde que Saulo caiu do cavalo e virou Paulo, a religião de Cristo é também a religião dos gentios, daqueles que não nasceram especialmente assinalados pelo Pai. “Católico” é palavra de origem grega; quer dizer “universal”. A religião não se criou com a intenção de ser de poucos, mas de todos. No caso, pergunto: e os que não querem a expulsão dos arrozeiros? E os próprios arrozeiros? Não têm também um alma que deveria ser abrigada pela Igreja Católica? Eis o mal principal que a Escatologia da Libertação fez ao catolicismo: tentar transformar a Igreja numa facção, numa seita.
A argumentação da CNBB (post anterior), especialmente no que concerne à proteção dos índios da sanha dos brancos, é furada, é uma grossa bobagem, uma mistura exótica de cocar com água- benta. Todos os índios de Raposa Serra do Sol são aculturados já. Há, entre eles, algumas dezenas de indivíduos com curso universitário. Têm TV, parabólica, Internet, caminhonete… Alguns são grandes empresários da pecuária. Era só o que nos faltava agora: padreco brincando de Rousseau em Roraima com produtor de gado. É o samba-do-católico-doido.
Sou católico, o que não quer dizer que tenha mais ou menos autoridade para opinar sobre a posição da CNBB. Mas uma coisa posso asseverar: se há algo de doutrinário na defesa que faz a entidade, diria que ela perverte o princípio da Igreja, que busca incluir almas, não excluir.