Ciro, o contínuo de si mesmo
Da Agência Estado:Depois de elogiar a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, durante uma inauguração no último dia 19 no Ceará, apontando-a como “a mais competente auxiliar do presidente Lula”, o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) passou agora a criticá-la. “Dilma não tem nenhuma vivência política”, afirmou ele, na noite da última segunda-feira, 30, ao […]
Depois de elogiar a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, durante uma inauguração no último dia 19 no Ceará, apontando-a como “a mais competente auxiliar do presidente Lula”, o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) passou agora a criticá-la. “Dilma não tem nenhuma vivência política”, afirmou ele, na noite da última segunda-feira, 30, ao proferir palestra na Universidade Federal do Ceará (UFC) a economistas do Estado. Ainda, em entrevista à revista Isto É desta semana, o parlamentar foi perguntado se o projeto dele para o Brasil se parece com o da ministra. “Eu diria que a Dilma não tem projeto”, respondeu.
De acordo com o deputado, a ministra tem todas as qualificações para servir ao Brasil. Mas, segundo ele, falta a ela a “vivência política”, que diz não ser pouco. “Não estou falando de politicagem não. Estou falando de compreender o Brasil, saber como é que as coisas acontecem”, disse. “Mas isso pode ser suprido. Eu mesmo, quantos erros não cometi até ter esses 30 anos de experiência?”
Ciro também minimizou o crescimento da pré-candidatura da ministra para sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgada ontem pela pesquisa CNT/Sensus. Nela, Dilma aparece na resposta espontânea – na qual os eleitores respondem sem a apresentação de lista – com 3,6% das intenções de voto, atrás do próprio Lula (16,2%) e do governador de São Paulo, o tucano José Serra (8,8%), e na frente do governador mineiro Aécio Neves (2,9%), também do PSDB. Segundo Ciro, pesquisa não mostra mais que a notoriedade. “A tal distância do processo, pesquisa é muito viciada na metodologia.”
ComentoA expressão do título é de Nelson Rodrigues. Cabe como uma luva a Ciro Gomes. Ele não muda. É sempre igual a si mesmo. Talvez, à diferença do que pensa, fosse mais sutil na juventude. Mais velho, está perdendo certas delicadezas…
Dilma não tem experiência, vivência, não a sua de 30 anos na política??? Entendo… Ciro é um caso clássico de gente que apostou no cavalo errado. Entendeu que outros seriam os caminhos da política. Ninguém apostou mais na derrocada do PT no poder do que ele próprio. Aliás, em 2002, foi o candidato que mais fez alertas contra os desastres que poderiam advir da inexperiência de Lula.
Tornou-se depois seu ministro, sempre de olho na possibilidade de que a receita “neoliberal” do PT desandasse. E, bem, desandar, convenham, não desandou. Colou em Lula na esperança de que pudesse ser caudatário do apelo popular do petista (pouco importa o que faça), mas também de um certo clima de urgência. Deu tudo errado pra ele. O governo do PT, goste-se ou não disso, tem plenas condições de advogar a própria continuidade. E sem Ciro. Acreditar que, um dia, os petistas possam escolher alguém de fora das suas fileiras para tentar passar o bastão é coisa de inocentes — para escolher um adjetivo generoso.
Ciro parece, agora, estar se posicionando para uma segunda batalha, que tem tudo para dar igualmente errado: ser o vice de Dilma, dando a ela, então, “a vivência de 30 anos”. Diga aí: se você é petista e tem uma candidata com o perfil de Dilma, escolherá como seu complemento alguém com o perfil de Ciro? Vocês sabem o que penso dos petistas. Mas nunca ninguém me viu aqui a chamá-los de idiotas. Sou até acusado, e acho isso mais verossímil, de superestimá-los.
Ciro perdeu até o concurso de Mangabeira Unger, seu professor de línguas estranhas.