BENTO 16, O RITO TRADICIONAL E O CISMA
(ler primeiro o post abaixo)A tentativa do papa Bento 16 de levar a Fraternidade São Pio X de volta ao seio da Igreja Católica está gerando, se me permitem um gracejo, uma confusão dos diabos — eles se divertem, não duvidem… A São Pio X é, por exemplo, uma das principais promotoras, mundo afora, do […]
A tentativa do papa Bento 16 de levar a Fraternidade São Pio X de volta ao seio da Igreja Católica está gerando, se me permitem um gracejo, uma confusão dos diabos — eles se divertem, não duvidem… A São Pio X é, por exemplo, uma das principais promotoras, mundo afora, do rito tridentino, a celebração tradicional da missa. Há leitores que estão confundindo as coisas. Porque percebem meu viés crítico à fraternidade e à sua linguagem inaceitavelmente abusada — ver post desta madrugada a respeito —, acreditam que estou também me opondo ao rito tradicional. Eu não! Ao contrário até.
O papa fez bem quando dispensou os padres de todo o mundo da autorização episcopal para celebrar o rito tridentino. Há quem diga que, não fosse a fraternidade, não haveria tal permissão, concedida em 2007. E se for o contrário? Não fosse a sua paixão pelo cisma, talvez tal autorização tivesse sido dada antes. As missas tridentinas têm atraído mundo afora — e também no Brasil — um número crescente de fiéis. Uma das coisas de que estou certo, já escrevi tantas vezes, é que os fiéis querem uma missa mais reverente e menos burocrática. O rito novo pode ter grande dignidade, sem dúvida, mas parece que tem faltado empenho aos sacerdotes. E, claro, há desvios de toda ordem: dos escatológicos da libertação aos padres-ginastas e cantores — estes até podem ser bem-intencionados e corretos na doutrina, mas não dá para transformar a liturgia no samba-do-católico-doido.
Parece que Bento 16 tentou conter os desvios estimulando a volta da Igreja à tradição, sem abrir mão de sua história, que inclui o tão repudiado — pelos ditos tradicionalistas — Concílio Vaticano II. A questão é saber se não é possível fazer uma leitura, então, tradicionalista desse Concílio (ver post seguinte). Acho que é. Entendo, nesse contexto, que Bento 16 tenha tentado reunir ovelhas desgarradas do rebanho católico, como a Fraternidade São Pio X. Só que me parece que a fraternidade está muito bem acomodada com o seu status de cisma — e não quer saber de se reintegrar. “O Concílio Vaticano II foi pior que uma heresia, já que significa tomar uma parte da verdade, fazê-la absoluta e negar o resto. Nesse contexto digo que foi uma droga, a maior”. A afirmação, como noticiei na madrugada, é do chefe dos lefebvrianos no nordeste da Itália, o sacerdote Floriano Abrahamowicz. Responde assim à política de mão estendida de Bento 16.
Para a Igreja, a retomada de algumas de suas tradições é coisa importante demais para se confundir com a opinião de sectários. Parece que a Fraternidade São Pio X deve mesmo ser mantida distante da Igreja. Como pode falar em conservar a doutrina quem se deixa levar por uma espécie de concupiscência da indisciplina? Desgarra-se do corpo principal para declarar-se ela própria a guardiã da doutrina? A fraternidade não se tornou dona do passado da Igreja. E certamente não tem bons planos para o seu futuro.
(leia o post seguinte)