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As falácias de um “cientista social” que prova que os tucanos perdem em São Paulo por… SETE A TRÊS. Ou: A ciência que vai contra os fatos é só ideologia vagabunda

Humberto Dantas é professor do Insper — Instituto de Ensino e Pesquisa. Parece haver dois lá: ele e Carlos Mello. São os que falam. Ambos são cientistas políticos. Certo! Cientistas políticos costumam pontificar na imprensa brasileira como autoridades, como deuses ex machina, com uma autoridade empírea. Nos bons tempos, quando um “cientista” falava com jornalista, […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 07h31 - Publicado em 30 out 2012, 18h07
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  • Humberto Dantas é professor do Insper — Instituto de Ensino e Pesquisa. Parece haver dois lá: ele e Carlos Mello. São os que falam. Ambos são cientistas políticos. Certo! Cientistas políticos costumam pontificar na imprensa brasileira como autoridades, como deuses ex machina, com uma autoridade empírea. Nos bons tempos, quando um “cientista” falava com jornalista, a este cumpria dialogar — no sentido socrático mesmo, não é?, tentando encontrar contradições no pensamento do mestre. A se dar crédito a Platão, Sócrates ganhava todas. E, claro!, mesmo sem ser Sócrates, Dantas e Mello poderiam ganhar todas — mas caberia aos discípulos fazer indagações. Não! Hoje, na era do jornalismo “fulano disse que”, os Sócrates não têm chance de melhorar os próprios argumentos.

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    Leio na Agência Estado uma, por assim dizer, análise do professor Dantas sobre o processo eleitoral. Ele aderiu à tese, lançada pela área de marketing de uma empresa de ideologia chamada PT, segundo a qual o “PSDB precisa se renovar”. Se não me engano, o Insper é uma escola que tem um forte acento nos negócios, no “marquetingue”, em coisas assim. A metafísica influente, tudo indica, acaba pautando o pensamento. O pior é que há um monte de tucanos trouxas que caem na conversa.

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    Na sua análise, Dantas afirma que Serra recorreu a um “discurso odioso e antipetista que costuma afundar quando a fonte não é desejada”. Não sei que diabos quer dizer “quando a fonte não é desejada”… Sei que sua análise é tão verdadeira quanto uma nota de R$ 3. Só engana jornalistas. Volto a este ponto mais adiante. Antes, vou desmoralizar tecnicamente a sua numerália, que ele pretende tratar como argumento irretorquível.

    O professor destaca que o trio Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra disputou, desde 1988, quando se formou, 12 das 13 eleições havidas em São Paulo (considerando cidade e estado) — a exceção foi Fábio Feldman, que concorreu à Prefeitura em 1992. Venceu seis. Quase verdade! Nesse período, Eduardo Suplicy disputou duas eleições majoritárias; perdeu as duas (era a sua terceira…); Luiza Erundina disputou duas, perdeu uma. Marta disputou três; perdeu duas; Mercadante disputou duas — não conseguiu. Só aí já se contaram 9 das 13 eleições. De resto, como o critério de comparação é o PT, por honestidade metodológica, Dantas deveria ter analisado o índice de renovação do PT também desde a origem do partido. Cairia ainda mais.

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    É tão alto assim o índice de renovação petista? As únicas exceções no repeteco, de 1988 até 2012, foram Plínio de Arruda Sampaio (1990), José Dirceu (1994) e José Genoino (2002) na disputa pelo governo do Estado. Exceção feita a Genoino, os outros eram quase anticandidatos. Pura falta de opção. Emplacou agora Fernando Haddad. Esse debate é espantoso — e pobre do PSDB se o levar a sério!

    Em sete eleições diretas para a Presidência (incluindo 2014), o PT terá tido dois candidatos: Lula (5 vezes) e Dilma (2). O índice de renovação, se é esse o critério, do PSDB é maior, não é? Mario Covas, Fernando Henrique, José Serra, Geraldo Alckmin e, provavelmente, Aécio Neves. Até agora, ninguém teve tanta chance de repetir o insucesso como Lula: perdeu uma eleição para o governo de São Paulo em 1982 e três para a Presidência. Não obstante, foi candidato pela quinta vez em 2002… E deu certo para eles.

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    Dantas esconde, na sua conta perturbada, algumas evidências escandalosas. Uma das duas vezes em que Mário Covas disputou o governo do estado era em processo de reeleição; em 2002, Alckmin, na prática, também disputou a reeleição (já que havia assumido o mandato em razão da morte do antecessor). Em quatro eleições ao menos, não cumpria falar em “renovação”. Não se estava, afinal de contas, renovando derrotados.

    Vamos ver. Covas venceu duas vezes (governo de São Paulo); Alckmin, duas (governo), e Serra, duas (Prefeitura e governo). Poder-se-ia acrescentar aí a vitória de Gilberto Kassab em 2008 — não pertencia ao PSDB, mas, à época, estava no campo não petista. Quantas vitórias obteve o petismo com os seus mesmos ou com os seus novos? Incluindo Fernando Haddad, TRÊS! Menos da metade.

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    Eis aí, leitor! Em 13 eleições, o bloco liderado pelo PSDB venceu seis — a rigor, sete eleições! O bloco liderado pelo PT venceu três. Bastou, no entanto, Fernando Haddad conquistar a Prefeitura de São Paulo neste ano para o nosso acadêmico embarcar na “teoria da renovação”. Ora, considerando o resultado pregresso, o PSDB fez bem em não… renovar!, não é mesmo? Não é só isso, não! Levando-se em conta as sete vitórias do bloco tucano e as três do petismo, sobram três disputas. Foram vencidas por quem mesmo? Uma por Luiz Antônio Fleury, quando o PMDB tinha força em São Paulo, e duas pelo malufismo (o próprio Paulo Maluf e Celso Pitta). Maluf, aliás, está de volta ao poder, nos braços de Haddad.

    Dantas ou qualquer outro têm o direito de pregar o que chamam “renovação”. Só não têm o direito de ir contra os fatos. A estratégia eleitoral do PSDB em São Paulo tem-se mostrado correta e, ora vejam!, vitoriosa.

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    Agora o ódio
    Dantas afirmou que Serra fez uma “campanha odiosa e antipetista”. Que pecado! Começo pelo “antipetista”! É, de fato, é um absurdo! Como a gente sabe e vê, os petistas jamais praticam antitucanismo em sua propaganda. Aqueles comerciais que acusavam o PSDB de ter vendido estatais “a preço de banana” (isso numa campanha municipal) eram política maiúscula, superior. Aquelas inserções que acusavam Serra de ser “contra os pobres” era coisa da mais refinada economia política. Aquela propaganda que responsabilizava pessoalmente o tucano pela doença de um idoso era discurso do amor! De
     que “ódio” ele está falando? Por que não demonstra a sua tese? Por que não põe por escrito o que quer dizer, dando as devidas aspas do discurso de Serra que provam a sua afirmação? Dantas, sim, é um preconceituoso. Aliás, o antisserrismo do Insper, a julgar por essa “análise” e por outras feitas por Carlos Mello, parece beirar a patologia. Mello é abertamente simpático ao PT. Tem todo o direito. Só não pode chamar opinião e ideologia de ciência. Dantas, ainda não sei. Igualmente tem o direito de ser o que bem entende. Mas não pode torcer os números para provar uma tese que está contra a ordem dos fatos.

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    A ser como ele diz, a “renovação” é agora uma categoria de pensamento superior e deve se impor a despeito dos fatos. Em 1998, Covas tinha o direito a disputar a reeleição ao governo de São Paulo. Deveria ter desistido. Em 2002, Alckmin era favorito, deveria ter caído fora. Em 2004, Serra tinha grandes chances — e se elegeu. Mas fez mal em disputar. Em 2006, onde já se viu?, deveria ter entregado o governo de São Paulo a Marcadante…

    Isso que Dantas faz não é ciência política. É só opinião contra os fatos — além, claro!, de estar ajustando a sua análise à metafísica influente, o que é detestável num “cientista”, mesmo que “cientista social”, uma expressão que sempre me provocou calafrios…

    De resto, chama-se “novidade” à imposição de um candidato que só disputou a eleição por vontade de um coronel. A operação não deu errado por muito pouco. Considerando o conjunto do eleitorado, Haddad deve ser o prefeito eleito pela mais baixa percentagem de moradores de São Paulo aptos a votar. Não fosse a forte demonização de Celso Russomanno empreendida pelo petismo — que desconstruiu o outro em vez de construir o seu candidato —, a realidade seria outra.

    Uma “ciência” que se erige dessa forma, com esse grau de urgência e na boca da urna, ciência não é. Acusar a campanha tucana de “antipetismo” (meu Deus, que absurdo!) e de veicular o ódio é só parte do processo de criminalização daqueles que se opõem ao PT. A fala de Dantas é igualzinha à de Rui Falcão.

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