Ah, as coisas estão longe do fim. Vamos lá.
As conversas de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, que vieram a público não revelam crime nenhum. Em si, não têm nenhuma importância. O busílis é outro e está nas acusações que ele fez em depoimento à Procuradoria-Geral da República. Aí o bicho pega.
O homem, como se sabe, não era um qualquer. Ficou no comando da empresa por longos 12 anos. Tem um filho que administra um fundo de investimentos bilionário na Grã-Bretanha: Expedito Machado, o “Did”, também fez acordo. A polícia suspeita que boa parte da grana tenha origem em safadezas no Brasil.
Machado afirmou que repassou, atenção!, R$ 60 milhões a três peemedebistas ilustres: os ainda senadores Romero Jucá (RR) e Renan Calheiros (AL) e o ex-senador José Sarney. Só o também ex-presidente da República teria recebido R$ 19 milhões.
Há dois dias, Sarney reagiu com uma nota indignada. Lá se diz:
“Face à publicação pela mídia de que o Senhor Sérgio Machado teria, em delação premiada, afirmado ter dado a mim vinte milhões de reais, venho protestar, desmentir e repudiar tal afirmação. A total falta de caráter de quem, como meu amigo por mais de vinte anos, frequentando com assiduidade minha casa, almoçando e jantando comigo, e visitando-me sempre, teve a vilania de gravar nossas conversas, até mesmo em hospital, revela o monstro moral que ele é. (…)
Repudio pessoa tão abjeta, que, insisto, vou processar.”
Como já afirmei há dias aqui no blog, Machado só fez acordo depois que a Polícia Federal chegou a seu filho. Inicialmente, estava disposto a resistir.
Nem os mortos
As gravações não poupam nem os mortos. Fernando Baiano, um dos delatores, já havia acusado Sérgio Guerra (PE), então presidente do PSDB, que morreu em março de 2014, de ter cobrado uma propina de R$ 10 milhões para ajudar a enterrar uma CPI da Petrobras, em 2009.
Vídeo gravado por câmeras de segurança registram uma conversa de Guerra com Paulo Roberto Costa, Baiano, Ildefonso Colares (executivo da Queiroz Galvão) e Erton Medeiros (da Galvão Engenharia). Segundo informa a Folha, não há referência explícita a propina, mas o tucano afirma: “Nossa gente vai fazer uma discussão genérica, não vamos polemizar as coisas (…) Eu tenho horror a CPI (…) É uma coisa deplorável fazer papel de polícia: parlamentar fazendo papel de polícia”.
Eles estavam no escritório de um lobista, amigo de Baiano.
É evidente que apenas tal fala não indica pagamento de propina. Mas por que alguém diria algo assim justamente a Paulo Roberto Costa e a dois empreiteiros?
Pois é… Pode ser que Guerra tenha levado o segredo para o túmulo. Pode ser que não.