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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Andrea Matarazzo: gente decente se incomoda, sim, quando é acusada; os profissionais da ladroagem é que têm sangue frio e não se importam

Andrea Matarazzo é, sim, meu amigo — e isso não tem nem nunca teve nenhuma relação com política. Se alguém decretar amanhã o fim da dita-cuja, a amizade continuará. As circunstâncias da vida privada não interessam a ninguém, sei disso, mas, se um testemunho vale alguma coisa, sei que, hoje como antes, a vida pública […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 05h38 - Publicado em 11 ago 2013, 05h26

Andrea Matarazzo é, sim, meu amigo — e isso não tem nem nunca teve nenhuma relação com política. Se alguém decretar amanhã o fim da dita-cuja, a amizade continuará. As circunstâncias da vida privada não interessam a ninguém, sei disso, mas, se um testemunho vale alguma coisa, sei que, hoje como antes, a vida pública mais lhe rende perdas objetivas — dinheiro — do que ganhos. É uma pessoa de bem. “Ah, mas por que está na política?” Talvez a pergunta pudesse  ter sido feita a um de seus tios, que o fez seu herdeiro, Ciccillo Matarazzo: “Mas por que esse aí decidiu se meter com a arte?”. A Bienal ou o Museu de Arte Moderna poderiam explicar.

O indiciamento de Andrea, que é vereador (PSDB), pela Polícia Federal, já demonstrei aqui, é uma das coisas mais absurdas de que tive notícia nos últimos anos. Já expliquei os motivos. No Estadão desta sexta, ele concedeu uma entrevista aos jornalistas Fausto Macedo e Marcelo Godoy. Está visivelmente abatido. Gente decente não gosta de ver seu nome envolvido em supostas lambanças. Pensa até em deixar a política, que é o que lhe cobra a família, farta da baixaria.

Dá para compreender os motivos. Sempre me ocorre a estupefaciente frase de José Dirceu, referindo-se à sua atuação no mensalão: “Estou cada vez mais convencido da minha inocência”. Sem dúvida, é a fala de alguém a quem interessa, antes de mais nada, a versão. Mas há quem se contente mesmo é com a verdade.

Reproduzo abaixo a entrevista. Há muito tempo não via na imprensa um depoimento tão sincero e contundente. “Pra que continuar nisso?”, cobrou uma senhora da família Matarazzo. Espero que ele não ceda a essa justa pressão. Mas dá para entender perfeitamente a sua indignação e a das pessoas que o cercam. Leiam a entrevista.
*
Abatido e indignado é como o dono de um dos sobrenomes mais conhecidos da Câmara Municipal de São Paulo, o ex-ministro e ex-secretário Andrea Matarazzo (PSDB) se diz diante da acusação que lhe foi feita pela Polícia Federal de corrupção no inquérito do caso Alstom. Ao lado de seu advogado, o criminalista Antonio Claudio Mariz de Oliveira – que pediu o arquivamento da acusação contra o político -, Matarazzo, ligado ao ex-governador José Serra (PSDB), afirmou esperar que as acusações não sejam consequência apenas da briga política entre tucanos e petistas ou uma “caça ao tucano”, como lembrou.

O que o senhor pode dizer sobre as acusações que lhe são feitas pela Polícia Federal?
Para os amigos não precisa explicar e para os inimigos não adianta. O que não quero é ficar na vala comum. Eu fui secretário de final de janeiro a agosto de 1998 e depois sai para o governo do presidente Fernando Henrique. Participei de quatro ou cinco reuniões de conselho das empresas. As empresas estavam em um processo de privatização. Todos os diretores que estavam lá eu herdei. Não conheço nenhum dos outros acusados, com exceção do Bernini (Eduardo José Bernini, presidente da estatal EPTE) e o Fingermann (diretor financeiro da EPTE). O contrato contestado era sobre uma subestação em função de uma linha do metrô. Esse assunto não era da alçada do conselho. Eu nunca o discuti, nunca vi, nunca passou pela minha mão. Dizer que discutiu isso comigo é ridículo e mentiroso. O secretário não sabe de tudo.

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Nunca nenhum diretor da Alstom procurou o senhor?
Nunca! Ninguém se insinua comigo, pois não dou espaço.

Esse caso realimenta a briga entre PT e PSDB. Há uma dimensão política nesse caso. É como se houvesse uma…
…Uma caça aos tucanos. Você trabalha sério… Vinte anos de vida pública: nunca tive nada e acabo abatido em um negócio assim. Está errado. Não é assunto meu. Não tive participação ou conhecimento. Tecnicamente não era de minha alçada. Agora misturaram tudo: Siemens e Alstom. Quando fui depor, respondi tudo. Mas não achava possível que fosse ter continuidade (a acusação). É um horror. É uma coisa kafkiana. Estou arrasado.

O senhor acha então que seu caso faz parte do jogo político?
Eu espero que não, mas a sensação que dá é que querem colocar todo mundo na vala comum para zerar o jogo. Só que você não pode fazer isso com a reputação das pessoas sérias. Fiquei positivamente surpreso com o apoio que tive na Câmara dos Vereadores. Malandro não se incomoda com essas coisas. Eu fico pensando na forma mais indolor do suicídio. Para mim é inadmissível esse tipo de coisa. Inclusive me faz repensar se vale a pena permanecer na vida pública. É um preço caro demais. Se são esses os critérios eu não recomendaria a ninguém a vida pública, por mais fascinante que seja. É caro, injusto e sórdido. Estou indignado. Meu nome não foi construído na política.

A PF usou contra o senhor a teoria do domínio do fato. O que o senhor diz sobre isso?
É (Mariz faz então um comentário: “É difícil se defender quando não há uma acusação. Ela é tão vaga, leviana. Como vou provar que ele não sabia de nada?”)… culpar o pai porque o filho matou. O financiamento é decisão da área financeira da empresa. Não passa nem pelo presidente.

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Vereador, como sua família reagiu a essa a isso?
Você pode imaginar o que meus parentes estão achando. São quatro gerações construindo um nome e eu sou enfiado em um negócio desses. Tenho mais a perder do que estar no governo. Estou na vida pública por prazer e, de repente, sou envolvido em um assunto que não tem nenhuma relação comigo. Estou liquidado.

Retomo
Espero que Andrea Matarazzo, apesar de tudo, não desista. A política não pode ser o território privilegiado dos maus.

 

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