Ainda Lula e a tolice racista
Lula afirmou que Barack Obama não pode errar, ou demorará muito tempo até que se eleja outra negro. Afirmei que é uma consideração boçal e racista. Chegaram muitos protestos furiosos, como sempre. E, também como sempre, há a turma que me convida a entender o ponto de vista dele. Eu entendi. E disse por que […]
Se ser ou não negro é relevante, é preciso supor que, caso Obama se dê muito bem no governo, terá de ser sucedido por outro negro, certo? Ou será racismo botar um branco no lugar. Mais: para que haja sempre um negro em condição de disputar, a taxa de negros que se interessam por política e que alcançam o topo da carreira, podendo disputar uma indicação à Presidência por um dos dois grandes partidos, terá de ser brutalmente maior do que a dos brancos. A razão é simples: estamos, num caso, falando de 13% da população americana; no outro, de 70%. Mais: os negros e os latinos terão sempre de votar em negro (para combater o racismo, claro!!!), e quase metade dos brancos terá de fazer a mesma coisa, sempre! Ou será a volta do… racismo! Estamos diante de um legítimo “raciossímio”.
A verdade é que Lula, ao expressar aquela besteira, falava, como sempre, de si mesmo. Ele sempre faz isso, não importa o assunto. Se discutirem bicho de pé, ele dará o exemplo pessoal. Se comentarem a chegada do homem à Lua, ele logo evoca uma memória doméstica. A história da cultura avançou num movimento pendular entre o antropocentrismo e o teocentrismo. No Brasil, isso acabou: inaugurou-se o “Lulocentrismo”. Ou não foi ele próprio a ter afirmado que a eleição de Obama é o coroamento de um movimento iniciado no Brasil, em 2002?
Lula criou a fantasia de que, no Brasil, torciam por seu insucesso — “um metalúrgico não pode errar” —, o que é uma abordagem farisaica, autoritária. A picaretagem é a seguinte: a) se o governo der errado, é porque torceram contra; b) se der certo, é porque é um metalúrgico no poder. O truque vagabundo pode até funcionar no Brasil. Nos EUA, duvido.