A MICARETA DA HISTÓRIA NO REINO ENCANTADO DO PRÉ-SAL, OLERÊ, OLARÁ
É um absoluto delírio (mas não é o tipo de visão que um maluco ou outro têm sozinhos: esta tende a ser coletiva) esse Carnaval do Pré-Sal: um carnaval fora de hora, com alguns anos de antecipação, uma verdadeira Micareta da História. Não é que não exista necessariamente aquilo tudo de petróleo lá nos cafundós. […]
É um absoluto delírio (mas não é o tipo de visão que um maluco ou outro têm sozinhos: esta tende a ser coletiva) esse Carnaval do Pré-Sal: um carnaval fora de hora, com alguns anos de antecipação, uma verdadeira Micareta da História. Não é que não exista necessariamente aquilo tudo de petróleo lá nos cafundós. Deve haver, não é? Saberemos quanto ao longo dos anos. Fácil de tirar não é (veja texto abaixo).
Quando alguma coisa de substancial estiver saindo de lá, o sucessor de Lula estará encerrando seu (primeiro?) mandato. E por que tanto calor? E por que tanto assanhamento? E por que o rei do axé está no palco gritando: “Tira o pé do chããão, galera!!!” Porque não e palco, é palanque. Lula é nosso passado (ele estabilizou a economia, como sabem; criou o Real…), nosso presente e nosso futuro. Se e quando se extrair petróleo do pré-sal em quantidade relevante, terá sido ele o responsável. Até a sua chegada ao poder, seus adversários queriam destruir a Petrobras, não é mesmo? É o samba-do-eleitoralismo-doido, temperado pelo nacionalismo bocó e espalhado pelo subjornalismo vigarista.
Lula jantou ontem com os governadores de São Paulo (José Serra), Rio (Sérgio Cabral) e Espírito Santo (Paulo Hartung), os três estados diretamente interessados na exploração do petróleo do pré-sal — quando houver exploração de petróleo no pré-sal… Por enquanto, o que existe é a micareta, é a o esforço de pôr óleo na candidatura empacada de Dilma Rousseff. E será esse o sentido da pajelança eleitoreira de hoje. Ontem, os governadores foram dizer ao presidente — e a opinião de Serra a respeito acabou prevalecendo — que não fazia sentido encaminhar a Lei do Petróleo ao Congresso em regime de urgência. Urgência por quê? Os parlamentares precisam de mais de 90 dias para debater o assunto.
O governo queria ainda reduzir à metade a parcela dos royalties a que os estados e municípios têm direito e repartir os rendimentos futuros com os demais estados, mesmo aqueles que não produzem petróleo. Cabral e Hartung se opuseram fortemente à idéia, e Lula decidiu deixar também esse debate para mais tarde. Os três governadores devem participar hoje, ao lado de outros colegas, da solenidade que vai marcar o envio da proposta ao Congresso, com a criação da nova estatal, a PetroSal. Lula pretende fazer muito barulho. Vem o “Brasil-potência” por aí…
As oposições divulgaram ontem uma nota — e estão certíssimas — acusando o governo de fazer exploração eleitoreira do caso: “O oba-oba palaciano tem o objetivo explícito de transformar o tema em plataforma eleitoral para 2010. No entanto, ao apresentar o modelo que considera mais conveniente para suas pretensões eleitorais de curto prazo, o governo também abre espaço para uma grande discussão nacional, que deveria estar acima de partidos e candidaturas”.
A exploração eleitoreira é óbvia. Lula está transformando o que é uma etapa de uma longa história — com muito passado e muito futuro — numa conquista pessoal, a ser dividida com a sua candidata à Presidência. “Isso é normal; qualquer um o faria”. Não, não é normal. E só faria isso quem agisse com a moralidade com que Lula age. Ele, obviamente, antecipa o petróleo para dar combustível à campanha eleitoral também antecipada.