A Folha desta segunda traz uma entrevista com um rapaz chamado Pedro Henrique Pedreira Campos, identificado como “historiador”. Tem 31 anos. Escreveu o livro “Estranhas Catedrais – As Empreiteiras Brasileiras e a Ditadura Civil-Militar”, publicado pela Editora da UFF. Parece que o objetivo é demonstrar como as empreiteiras já eram íntimas do regime militar — ora, não me digam! E antes do golpe? Também! Logo… Não li. Não vou ler. Conheço o gigante pela pegada, a vida é curta para os livros que já há e que ainda não li. Se acrescento os bons que serão escritos, fico aflito… E por que não lerei?
Prestemos atenção às suas primeiras palavras: “A gente tenta ler a corrupção como exceção. Mas o que eu noto, considerando a história do capitalismo, é que a apropriação do público pelo privado é mais uma regra. As empreiteiras calculam a corrupção para obter lucro. Assim, se eu tenho que lucrar com uma obra, vou usar todos os métodos disponíveis. Um bom empreiteiro é o que faz a obra e a faz lucrativa”.
Vale dizer: ele não escreveu uma obra para analisar a gênese da corrupção, suas características particulares durante a ditadura ou sei lá o quê. Ele escreveu um livro contra o capitalismo, o que sugere que sociedades comunistas foram ou são ainda imunes a esse mal. O rapazola só concebe o capitalismo como “a apropriação do público pelo privado”. Quando dá, então, o exemplo em primeira pessoa, a besteira que diz é de trincar catedrais: “Assim, se eu tenho que lucrar com uma obra, vou usar todos os métodos disponíveis. Um bom empreiteiro é o que faz a obra e a faz lucrativa”.
Perceberam? Para ele, o único modo de uma obra ser lucrativa é por meio da fraude. No seu raciocínio, o lucro já é um roubo. Ele é jovem: apenas 31 anos. Mas é uma idade em que já não se tem o direito a tamanha ignorância. Nem Karl Marx confundia a tal “mais-valia” com roubo. Por que ele escreveu livro e dá entrevista? Não tenho a menor ideia.
O que começa mal não termina bem. A repórter indaga no fim da entrevista: “O senhor considera o financiamento de campanhas um dos motores da corrupção ligada a essas empresas?”. E ele responde: “Não é um motor, mas uma peça muito importante. O financiamento empresarial compromete toda a gestão futura. Se o empresário está pagando, ele vai ter poder sobre o governo que vai ser eleito. É a lógica de que quem financia governa junto”.
Entendi. Segundo esse raciocínio, se as doações de empresas forem proibidas, os interesses desaparecem, certo?, e os políticos, claro!, não farão caixa dois porque isso é muito feio. Bem, não vejo outro modo de responder às dúvidas lançadas por esse rapaz senão com a implementação no Brasil do regime de partido único e com a proibição do capitalismo. Uma coisa, assim, à moda cubana. Se a gente precisar de alguma grande obra, arruma um país amigo que queira tocá-la, mais ou menos como fez Cuba com o porto de Mariel, financiado pelo… Brasil!
Antes, a universidade brasileira era ruim. Depois foi piorando.