A confirmação do que aqui se disse: um “cartel” como nunca antes na história “destepaiz”
Na semana passada, tanto um executivo da Odebrecht como outro da Andrade Gutierrez, que integravam o mesmo consórcio que disputava a construção de Angra 3, informaram que foram procurados por Ricardo Pessoa para fazer doações ao PMDB. Ambos dizem que as doações não aconteceram. Escrevi aqui, no dia 30, o seguinte: “Tanto o executivo da Camargo Corrêa […]
Na semana passada, tanto um executivo da Odebrecht como outro da Andrade Gutierrez, que integravam o mesmo consórcio que disputava a construção de Angra 3, informaram que foram procurados por Ricardo Pessoa para fazer doações ao PMDB. Ambos dizem que as doações não aconteceram. Escrevi aqui, no dia 30, o seguinte:
“Tanto o executivo da Camargo Corrêa como o da Odebrecht dizem que não se fez doação nenhuma. Então vamos ver: empresas que compunham um mesmo consórcio eram alvos de, digamos, “pedidos” independentes para doar uma grana aos partidos — nesse caso, ao mesmo partido. Talvez seja essa a forma que o “cartel” tomou no Brasil: é o chamado “cartel jabuticaba”. A propósito: dois consórcios ficaram para a fase final na construção da usina: o Una 3 e o Angra 3. Depois eles se juntaram num só: o Angramon. Quem tomou a decisão? As empreiteiras “cartelizadas” ou o ente que promoveu a licitação?
O problema de dar às coisas o nome errado em razão da ideologia, da burrice ou seja lá do que for é o inconveniente que traz: manter inalterada a estrutura que gerou o desmando.”
Pois bem. Leio agora no Estadão o seguinte:
“E-mail entregue pela empreiteira Camargo Corrêa ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) cita conversas de executivos de construtoras com a Eletronuclear sobre as estratégias e os preços que seriam apresentados pelo cartel que rateou licitação de Angra 3.
As tratativas são de novembro de 2013, dois meses antes da licitação. Funcionários da Eletronuclear teriam orientado os executivos suspeitos de formar o cartel a produzir uma proposta na qual somente um dos consórcios, formado por Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht e UTC Engenharia, levaria os dois lotes em disputa.
O acerto era que, posteriormente, o grupo desistiria de um dos lotes, repassando-o às outras integrantes do esquema com o objetivo de aumentar o preço do contrato o máximo possível. Os documentos do Cade não descrevem, contudo, quais executivos da Eletronuclear participaram das negociações na ocasião. Além das quatro empreiteiras, são apontadas como participantes no cartel a Queiroz Galvão, a Empresa Brasileira de Engenharia (EBE) e a Techint.
(…)
Retomo
Quer dizer que os “empresários suspeitos de formar cartel” foram orientados pelos funcionários da Eletronuclear?
No Brasil, não é só a roubalheira que é estupefaciente. Estamos perdendo o apreço pelo sentido das palavras. Quer dizer que o órgão estatal que fazia a licitação, que definia o preço e que escolhia os vencedores “orientou” as empresas a fazer cartel???
Em Banânia, o órgão pagador é que orienta as empresas cartelizadas??? Assombra o mundo.
Isso é de um ridículo sem-par. Olhem aqui: é evidente que as empreiteiras podem ter cometido crime nesse caso e em todos os outros — ou não haveria tanto vagabundos devolvendo alguns milhões aos cofres públicos.
Mas que está em curso uma revolução conceitual, como sabem advogados, administradores e especialistas na área, está: trata-se do cartel comandado por quem paga pelo serviço.
Nunca antes, definitivamente, na história “destepaiz”.