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A CARTA DE FRANKLIN E O QUE ELES QUERIAM

Franklin Martins mantém em seu site, com orgulho, a carta, redigida por ele, em que os seqüestradores de Charles Elbrick fazem as suas exigências e ameaçam matar o embaixador caso não sejam cumpridas. O agora chefão da poderosa Secom faz uma introdução para apresentar o documento. Leiam (os “vermelhitos” são meus): No dia 4 de […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 15h17 - Publicado em 17 Maio 2010, 06h51

Franklin Martins mantém em seu site, com orgulho, a carta, redigida por ele, em que os seqüestradores de Charles Elbrick fazem as suas exigências e ameaçam matar o embaixador caso não sejam cumpridas. O agora chefão da poderosa Secom faz uma introdução para apresentar o documento. Leiam (os “vermelhitos” são meus):

No dia 4 de setembro de 1969, militantes de duas organizações que se propunham a derrubar a ditadura através da luta armada, a Ação Libertadora Nacional (ALN) e o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), capturaram o embaixador dos Estados Unidos numa rua do bairro de Botafogo, no Rio, exigindo a libertação de 15 presos políticos e a divulgação do manifesto abaixo como condição para a devolução do diplomata. Foi a mais espetacular ação da guerrilha urbana, que se iniciara timidamente em 1968 e ganhara enorme impulso depois do AI-5. O governo atendeu às reivindicações dos revolucionários: os presos políticos foram enviados para o México e o manifesto foi publicado nos principais jornais e divulgado em todas as rádios e televisões. Libertado o embaixador, seguiu-se feroz repressão, que levou em novembro do mesmo ano ao assassinato de Carlos Marighella. líder da ALN e principal dirigente da luta armada contra a ditadura.

Comento
Não, eles não quriam “derrubar a ditadura através da luta armada”. Não só isso. A própria carta deixa claro que o propósito era mais amplo. E, obviamente, quem recorre a tais métodos não é “revolucionário”. Reproduzo trechos da carta. A íntegra está aqui. Não há uma miserável linha que trate de qualquer coisa que possa se parecer com democracia. O trecho em maiúsculas deixa claro que a derrubada da ditadura, para eles, era só uma etapa para a constituição da outra ditadura: a do proletariado. É história.
*
“Grupos revolucionários detiveram hoje o sr. Charles Burke Elbrick, embaixador dos Estados Unidos, levando-o para algum lugar do país, onde o mantêm preso. Este ato não é um episódio isolado. Ele se soma aos inúmeros atos revolucionários já levados a cabo: assaltos a bancos, nos quais se arrecadam fundos para a revolução, tomando de volta o que os banqueiros tomam do povo e de seus empregados; ocupação de quartéis e delegacias, onde se conseguem armas e munições para a luta pela derrubada da ditadura; invasões de presídios, quando se libertam revolucionários, para devolvê-los à luta do povo; explosões de prédios que simbolizam a opressão; e o justiçamento de carrascos e torturadores.

Na verdade, o rapto do embaixador é apenas mais um ato da guerra revolucionária, que avança a cada dia e que ainda este ano iniciará sua etapa de guerrilha rural.

Com o rapto do embaixador, queremos mostrar que é possível vencer a ditadura e a exploração, se nos armarmos e nos organizarmos. Apareceremos onde o inimigo menos nos espera e desapareceremos em seguida, desgastando a ditadura, levando o terror e o medo para os exploradores, a esperança e a certeza da vitória para o meio dos explorados.

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O sr. Burke Elbrick representa em nosso país os interesses do imperialismo, que, aliados aos grandes patrões, aos grandes fazendeiros e aos grandes banqueiros nacionais, mantêm o regime de opressão e exploração.

Os interesses desses consórcios de se enriquecerem cada vez mais criaram e mantêm o arrocho salarial, a estrutura agrária injusta e a repressão institucionalizada. Portanto, o rapto do embaixador é uma advertência clara de que o povo brasileiro não lhes dará descanso e a todo momento fará desabar sobre eles o peso de sua luta. Saibam todos que esta é uma luta sem tréguas, uma luta longa e dura, QUE NÃO TERMINA COM A TROCA DE UM OU OUTRO GENERAL NO PODER, MAS QUE SÓ ACABA COM O FIM DO REGIME DOS GRANDES EXPLORADORES E COM A CONSTITUIÇÃO DE UM GOVERNO QUE LIBERTE OS TRABALHADORES DE TODO O PAÍS DA SITUAÇÃO EM QUE SE ENCONTRAM.
(…)
Na Semana da Independência, há duas comemorações: a da elite e a do povo, a dos que promovem paradas e a dos que raptam o embaixador, símbolo da exploração.

A vida e a morte do sr. embaixador estão nas mãos da ditadura. Se ela atender a duas exigências, o sr. Burke Elbrick será libertado. Caso contrário, seremos obrigados a cumprir a justiça revolucionária.
(…)
A ditadura tem 48 horas para responder publicamente se aceita ou rejeita nossa proposta. Se a resposta for positiva, divulgaremos a lista dos quinze líderes revolucionários e esperaremos 24 horas por seu transporte para um país seguro. Se a resposta for negativa, ou se não houver resposta nesse prazo, o sr. Burke Elbrick será justiçado. Os quinze companheiros devem ser libertados, estejam ou não condenados: esta é uma “situação excepcional”. Nas “situações excepcionais”, os juristas da ditadura sempre arranjam uma fórmula para resolver as coisas, como se viu recentemente, na subida da junta militar.

As conversações só serão iniciadas a partir de declarações públicas e oficiais da ditadura de que atenderá às exigências.

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O método será sempre público por parte das autoridades e sempre imprevisto por nossa parte.

Queremos lembrar que os prazos são improrrogáveis e que não vacilaremos em cumprir nossas promessas.

(…)

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