A “ESPIONAGEM” DURANTE O GOVERNO SARNEY E HOJE EM DIA
Na Folha de hoje, por Rubens Valente. Comento em seguida: Documentos liberados à Folha pelo Arquivo Nacional após 25 anos de sigilo demonstram que o governo do atual presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), espionou os principais focos de críticas na sociedade civil. O governo interceptou cartas, infiltrou agentes e produziu listas de nome e […]
Na Folha de hoje, por Rubens Valente. Comento em seguida:
Documentos liberados à Folha pelo Arquivo Nacional após 25 anos de sigilo demonstram que o governo do atual presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), espionou os principais focos de críticas na sociedade civil. O governo interceptou cartas, infiltrou agentes e produziu listas de nome e endereços dos principais protagonistas da oposição.
Criado após o golpe de 64 e mantido por Sarney (1985-1990), o Serviço Nacional de Informações centralizava as informações na chefia do órgão em Brasília, que tinha status de ministério e ocupava sala ao lado da de Sarney, no Palácio do Planalto. Os relatórios revelam os principais focos de preocupação do governo: partidos de esquerda, entidades de trabalhadores rurais sem terra, especialmente o MST -largamente o mais visado dentre todos-, religiosos da Teologia da Libertação, sindicatos e setores da mídia.
O SNI recebia e retransmitia relatórios produzidos por inúmeros outros órgãos que formavam a chamada “comunidade de informações” -o arquivo contabilizou pelo menos 248 órgãos que integravam o sistema do SNI.
Em 11 de dezembro de 1988, o SNI acompanhou a “primeira reunião da executiva nacional” do Partido dos Trabalhadores. A reunião era fechada, com cerca de 30 pessoas, dentre as quais Luiz Inácio Lula da Silva e José Dirceu. Todos os líderes do PT tinham fichas no SNI. Os arapongas escreveram que os petistas atacaram a inflação e os baixos salários e afirmaram que Lula defendeu a antecipação das eleições. Lula teria dito: “O centro da crise é Sarney”.
O relatório descreve as disputas dentro do PT e “certo descontentamento” com a gestão da então prefeita paulistana, Luiza Erundina. Na Polícia Federal, dirigida pelo atual senador Romeu Tuma (PTB-SP), o serviço de espionagem era exercido pelo Centro de Informações.
A PF se valia de sua estrutura nos Estados para investigar os partidos que incomodavam o governo Sarney. Em 24 de junho de 1985, a superintendência de Minas emitiu “ordem de busca” para investigar “a tática do PCB [Partido Comunista Brasileiro] para o movimento sindical”. O documento orientava os policiais a “verificar se houve alterações táticas que modifiquem a orientação sindical determinada pelo partido em março de 85″.
Em maio de 1988, a unidade da PF no Paraná elaborou um relatório sobre um grupelho chamado PRC (Partido Revolucionário Comunista), formado por Tarso Genro (PT-RS), pelo hoje deputado José Genoino (PT-SP) e pela atual pré-candidata à Presidência pelo PV, Marina Silva, desconsiderada no relatório.
Na campanha de 1989, os arapongas deram destaque aos possíveis apoios que o MST prestaria a candidatos. “O MST vem difundindo a “campanha dos 11 pontos” para os presidenciáveis. Isto é, são propostas do MST para a reforma agrária que devem ser incluídas na plataforma do candidato. Aquele que se dispuser a aceitar integralmente os “11 pontos” terá o apoio do MST, menos Paulo Salim Maluf, Fernando Collor de Mello e Ronaldo Caiado”, apontou relatório datado de julho de 1989 -na eleição, o MST apoiou Lula. Aqui
Comento
Minha simpatia por Sarney é nenhuma. Quem gosta dele são os petistas. Tanto é assim que o comando do partido quer impor a aliança da legenda com Roseana no Maranhão. Mas acho que é preciso ir devagar aí.
Seria difícil provar que o SNI estivesse fazendo alguma coisa que a Abin não esteja fazendo neste exato momento, em plena vigência da democracia. Do que vai acima, inaceitável era e é acompanhar a reunião da Executiva de um partido, como aconteceu com a do PT. A propósito: foi escuta, ou havia infiltração do serviço na direção do partido?
Muitos dos documentos se referem ao acompanhamento de ações do MST. Fez muito bem o SNI! E espero que a Abin continue a fazer o mesmo ainda hoje. Para quem não sabe, serviços de Inteligência têm a obrigação funcional de acompanhar movimentos sociais que sejam, ainda que potencialmente, ameaças à ordem constitucional. Vale para greves, manifestações etc. Noto ainda que o acompanhamento era oficial, documentado, com registro.
Grave mesmo é a espionagem não-oficial, aquela que não deixa documentos para arquivo e que serve à chantagem e à intimidação, com dossiês fajutos, como temos visto habitualmente no Brasil de hoje. Grave mesmo é haver setores no Estado que atuam fora de qualquer controle.
A propósito: reportagem da VEJA desta semana mostra que um grupo de petistas já havia se organizado para, recorrendo a métodos policialescos, tentar, mais uma vez, melar as eleições. Consta que Dilma mandou parar tudo. Mas ninguém foi demitido. Os que acharam que podiam recorrer a tais métodos continuam na campanha. Por quê? Para quê? Quem era o chefe da turma e de onde saía o dinheiro que a sustentava? Perto disso, o SNI do Sarney era composto de um bando de normalistas.