Especialista em temas relacionados à infância de autor do livro “A Última Criança da Natureza”, o jornalista Richard Lou tornou-se especialista em analisar o impacto negativo de uma vida em maio à selva de pedra das grandes cidades pode provocar nas pessoas — e, em especial, aos mais jovens. A partir dos seus estudos, ele cunhou até um termo para denominar o que classificou como uma doença das sociedades modernas: o transtorno do déficit de natureza. O que seria isso? O mal acomete crianças privadas e distanciadas da natureza, sem oportunidades de brincar ao ar livre. Essa falta de contato com o mundo natural pode trazer problemas como miopia, falta de atenção ou limitação na coordenação motora.
No mercado imobiliário, muitos incorporadores já se atentaram a essa questão e, por isso, vêm desenvolvendo uma série de empreendimentos com novidades nos projetos concebidos para facilitar a aproximação das pessoas com a natureza, com ênfase nos desejos e necessidade do público infantil. Ainda que muitas dessas ações soem um tanto quanto artificiais, entregando ao mercado uma espécie de “natureza” de parque temático, vale a reflexão sobre a necessidade de estarmos próximos e conectados com a fauna e flora o mínimo possível.
As praias artificiais com ondas para surf que começaram a brotar nos milionários condomínios de campo no interior de São Paulo representam uma dessas tentativas de forçar uma conexão com a natureza. Ainda que as ondas das piscinas artificiais sejam criadas por potentes máquinas e a areia importada tenha sido confeccionada para não esquentar os pés dos banhistas, quem frequenta esses lugares tem a sensação de estar cumprindo sua cota de praia da temporada.
Mas será que essa simulação de natureza substitui o contato com a verdadeira atmosfera e ajuda na redução o transtorno do déficit de natureza?
Especialistas acreditam que não. A natureza de verdade é muito mais que um lugar artificialmente lindo, perfeitamente programado para quem deseja passar o tempo e curtir essa experiência sem ter dor de cabeça e com muito conforto. Na natureza da vida real, como se sabe, há um ambiente onde o imprevisível é um dos grandes diferenciais. Nadar em meio a cardumes no mar aberto, tomar chuva durante a tarde, subir em uma árvore e ter contato com animais silvestres são ricas oportunidades para a formação de uma criança. Devido à onda crescente de violência nas nossas grandes cidades, no entanto, esse contato é cada vez mais limitado. Erguer muros, criando “bolhas” de segurança, tornou-se a “solução” mais utilizada para tentar minimizar os riscos.
Uma alternativa criada para combinar contato com a natureza e infraestrutura de segurança aos moradores são os condomínios de campo. Vários empreendimentos continuam surgindo no mercado com essa proposta. Entre outras coisas, eles incluem jardins verticais nas laterais de edifícios, terrenos cercados por bosques e caprichados projetos paisagísticos nas áreas comuns. No linguajar técnico arquitetônico, biofilia é a ferramenta que integra moradia com natureza. Um exemplo é o Parque Camboriú, projeto residencial em Balneário Camboriú, Santa Catarina que tem a sustentabilidade e a preservação de áreas verdes como pilares fundamentais. O projeto todo prevê 8,5 mil m² de área de mata preservada integrando três torres residenciais com 26 andares.
Já o Haras Larissa, condomínio residencial de campo no interior de São Paulo, foi um pouco além, criando um santuário de animais, uma espécie de fazendinha com animais resgatados e reabilitados onde as crianças podem ter contato direto e alimentar com assistência de uma equipe profissional de veterinários e biólogos que ensinam os cuidados, respeito e preservação do meio ambiente para os pequenos que costumam achar que o leite vem da caixinha do supermercado — e não da vaca…