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Grandes negócios e tendências do mercado imobiliário. Renata Firpo é publicitária, consultora imobiliária e advogada pós-graduada em Direito imobiliário
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A impressionante recuperação da Faria Lima após a pandemia

Maior centro financeiro do país foi o grande exemplo dos prejuízos causados pelo isolamento necessário nos tempos da Covid-19

Por Renata Firpo
Atualizado em 15 Maio 2024, 23h51 - Publicado em 15 jun 2023, 09h33
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  • A pandemia provocou fortes abalos nas imponentes estruturas da Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo. O mais famoso e pujante centro financeiro do país virou na época o maior exemplo dos prejuízos provocados pelas necessárias políticas de isolamento e das incertezas que a Covid-19 lançava sobre o futuro do mercado de locação de escritórios. Num curtíssimo espaço de tempo, os edifícios apinhados de executivos viraram prédios-fantasma e as perspectivas foram se tornando cada vez mais sombrias, pois muitas empresas passaram a considerar sedes físicas menores, de forma a cortar custos e se adaptar aos novos tempos do trabalho híbrido.

    Ao contrário das previsões mais pessimistas, no entanto, a Faria Lima sobreviveu. A recuperação se deu em ritmo impressionante. Números mais frescos trazidos pela coluna Radar Econômico de VEJA mostram que o nível de ocupação dela é de 94%, a maior taxa desde 2015. Para se ter uma ideia, o índice de vacância superou os 10% durante a pandemia. A avenida voltou a ficar cheia e a valorização do pedaço aumentou ainda mais. Sem espaço para novos empreendimentos no curto prazo e com a alta demanda, o metro quadrado de laje corporativa já chega a R$ 250, o mais alto de toda a cidade. Há um ano, esse valor estava em R$ 195, segundo dados de consultoria do setor imobiliário JLL.

    A razão dos altos preços é simples: a Faria Lima é o centro financeiro da capital mais rica da América Latina. São Paulo sempre  seguiu o rastro do dinheiro. Por essa razão, nos anos 60 Higienópolis se tornou um dos bairros mais valorizados da cidade devido à sua proximidade com o centro, onde se concentravam as sedes dos bancos. Na década de 80, foi a vez da Avenida Paulista se destacar e todos os bairros ao seu entorno se valorizaram diante da proximidade da frenética avenida (na piada paulistana, ela é comparada ao casamento: começa no Paraíso e termina na Consolação, nomes dos bairros de cada ponta da sua extensão).

    Com o passar do tempo, a Faria Lima conquistou o coração das empresas e tomou o lugar da Paulista. Quando iniciou as obras de abertura dessa via, mais de cem prédios precisaram ser demolidos e o projeto de urbanização levava o nome de Radial Oeste, mas com a morte do então prefeito da cidade, José Vicente Faria Lima, a avenida recebeu o nome dele em uma homenagem. Junto com a visibilidade da avenida, os bairros do Jardim Europa, Itaim Bibi e Pinheiros hoje também ocupam o topo dos metros quadrados residenciais mais caros da cidade.

    Mas a Faria Lima é a muito mais que apenas uma pista de quase cinco quilômetros de extensão onde as empresas aportaram suas sedes administrativas e financeiras, entre elas, despontam sedes de gigantes como BTG Pactual, XP Investimentos, Google e Facebook, além de gestoras de investimentos e escritórios de advocacia estrelados. O agito do mundo de negócios e a circulação diária de 145 000 pessoas pela região fizeram florescer também um estilo de vida peculiar. Repleta de cafés e restaurantes charmosos, academias, lojas de carro de luxo e baladas, a avenida virou uma espécie de comunidade, onde os seus ocupantes tem até um apelido: faria limers.

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    Grupo formado majoritariamente por profissionais do mercado financeiro que comungam do mesmo estilo de se vestir e das mesmas rotinas, começando o dia circulando pelos lobbys dos exuberantes prédios do pedaço e terminando a jornada de trabalho em algum happy hour da região, os faria limers vivem praticamente 24horas nesse universo. A ala masculina circula por ali imaginando estar em Wall Street, muitos desses homens com o look clássico do pedaço, que inclui o indefectível coletinho sem manga (claro, moda importada dos Estados Unidos), aalém de relógios e assessórios que mostram que a crise passa longe daquelas lajes corporativas.

    O way of life dessa comunidade é tão próprio que alguns personagens saíram dos luxuosos edifícios e passaram a ocupar também as redes sociais, levando esse universo tão particular para o conhecimento de todo o país. Um dos maiores exemplos é Beth da Faria Lima, personagem fictício criado por uma executiva do mercado financeiro em 2018 no Instagram com intuito de dividir seu cotidiano e desafios de trabalhar em um ambiente predominantemente masculino. Conhecedora dos bastidores do endereço que liga os bairros de Pinheiros a Vila Olímpia, ela começou postando curiosidades acerca do seu mercado de trabalho, sempre com muito humor — e logo se tornou a rainha do condado, apelido carinhoso que a avenida ganhou, pelo excesso de dinheiro e de pretensão que circulam por ali. Assim surgiu o apelido da influenciadora, em referência a Rainha Elizabeth.

    Alguns anos depois, Bethinha, como já é carinhosamente chamada entre seus mais de 200 mil seguidores, precisou ajustar seu conteúdo para conseguir também se comunicar com todos aqueles que não viviam o dia a dia da Faria Lima. Diante da sua visibilidade e como uma boa rainha, sentiu a obrigação de usar seu canal para abrir discussões importantes do mundo corporativo e criou um canal anônimo e gratuito para dar apoio jurídico e psicológico para vítimas de assedio. Beth da Faria Lima manteve o charme em não revelar sua identidade. Mas, mesmo no anonimato, tem ajudado a chamar atenção para problemas que acontecem entre as quatro paredes dos escritórios que ocupam o metro quadrado mais desejado pelas empresas do país, com canais de combate ao assédio sexual e moral. Afinal, nem tudo é glamour na pulsante faixa financeira paulistana, que superou em grande estilo o baque provocado pela pandemia.

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