Sob Bolsonaro, Secom lança ‘Jornal Só Good News’
'Noticioso' foi ao ar neste domingo via redes sociais; programa tem tom oficial e vinheta que imita telejornais da TV aberta
Uma frase atribuída ao escritor inglês George Orwell tenta explicar para os leigos o cerne do trabalho do jornalista. “Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer ver publicado. Todo o resto é publicidade”. O equivalente brasileiro ao ditado que é um mantra nas redações coube ao escritor Millôr Fernandes. “Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”. Essas duas sentenças sintetizam, ainda que de maneira um tanto simplificada, o papel do jornalismo, que é o de jogar luz sobre assuntos obscuros e confrontar interesses poderosos em nome de um público geral que não teria acesso a determinadas informações de outra maneira. É em razão deste vocação de contraposição ao status quo que o produto final dos noticiários é com frequência percebido pela população como mau humorado ou simplesmente focado demais nas más notícias, em detrimento de todo o bem que possa surgir do mundo.
Ao que tudo indica, a Secretaria de Comunicação do governo de Jair Bolsonaro não quis seguir os preceitos do jornalismo profissional em seu mais novo produto, lançado na tarde deste domingo, chamado “Jornal Só Good News”, ou algo como jornal só com notícia boa, numa tradução livre do inglês. O programa, que tem uma vinheta aos moldes dos telejornais da TV aberta, é exibido em vídeo e distribuído nas redes sociais da Secom. Na primeira edição, a pauta de assuntos era, claro, elogiosa ao governo. As quatro “reportagens ” eram sobre o “reconhecimento mundial” da Caixa, a ampliação de crédito para pequenos produtores, a situação do título de propriedade para moradores do campo e um apanhado sobre o Auxílio Brasil, “o maior programa social do mundo”, segundo o “noticioso”.