Senado pode reduzir rigor da Lei da Ficha Limpa contra corruptos
Senadores devem votar, nesta quarta, um projeto já aprovado na Câmara que muda regras da lei de iniciativa popular
Presidido por Rodrigo Pacheco, o Senado vai votar, nesta quarta, um projeto de lei que, na prática, reduz os prazos de inelegibilidade impostos pela Lei da Ficha Limpa a políticos condenados por condutas criminosas.
O texto determina que políticos cassados e condenados não poderão se eleger por oito anos contados da condenação, prazo menor do que o previsto atualmente, que é contado a partir do final da pena ou do mandato.
O texto unifica em oito anos o prazo de impedimento por condenação judicial, cassação ou renúncia de mandato, entre outras regras alteradas.
O projeto da Câmara, já aprovado pelos deputados, tem parecer favorável de Weverton (PDT-MA) na Comissão de Constituição e Justiça e no plenário.
O Instituto Não Aceito Corrupção divulgou uma nota de protesto contra a iniciativa do Senado, de votar o texto que beneficia políticos corruptos logo após o primeiro turno da eleição. Confira:
“Esperou-se o primeiro turno das eleições para evitar desgaste nas urnas e, já no dia imediatamente seguinte à votação, sem sequer se disfarçar, o Senado pauta a votação do projeto que enfraquece brutalmente a Lei da Ficha Limpa (PLP 192/23).
Lembremos que este projeto já teve sua constitucionalidade afirmada e reafirmada pelo STF e lembremos que suavizar significativamente a pena significa esvaziar o sentido da lei, garantindo impunidade.
A Lei da Ficha Limpa é uma das poucas leis de iniciativa popular em vigor que visa barrar candidaturas indesejáveis à luz da prevalência do interesse público, que teve assinaturas colhidas ao longo de 14 anos. Pisa-se escandalosamente na vontade do povo.
E o pior, esta mudança que se pretende impor não foi debatida democraticamente nem na Câmara nem no Senado. O trâmite em ambas as casas deste projeto se deu mediante urgência de votação, eliminando-se a imprescindível discussão com a sociedade em audiências públicas, nas comissões.
É um verdadeiro massacre impiedoso da democracia, registrando que em 2008 foram 22 urgências de votação na Câmara e, se prosseguirmos no ritmo atual, podemos atingir 400 em 2024.
Se a democracia de fato ainda é o sistema em que o poder emana do povo, é exercido pelo povo e para o povo, o povo é absolutamente contrário à aprovação do PLP 192/23, o que mais uma vez reiteramos, conclamamos e enfatizamos, deve ser respeitado pelos Excelentíssimos Senhores Senadores.”