Relatório perdido
O serviço de inteligência da Presidência da República, até ontem, parecia trabalhar desconectado da dimensão das manifestações em todo o país. Diariamente, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI) mapeia informações sobre riscos nas mais diversas áreas e disponibiliza ao alto escalão do governo um relatório resumido, sintetizando o panorama previsto para aquele dia. […]
O serviço de inteligência da Presidência da República, até ontem, parecia trabalhar desconectado da dimensão das manifestações em todo o país. Diariamente, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI) mapeia informações sobre riscos nas mais diversas áreas e disponibiliza ao alto escalão do governo um relatório resumido, sintetizando o panorama previsto para aquele dia.
A versão de ontem apenas mencionava no campo ‘Segurança da Sociedade’: “programação de protestos para amanhã (hoje) do ‘Dia Nacional de Lutas Contra o Aumento das Passagens e Defesa do Transporte Público e pelo Passe Livre’, com alto índice de mobilização e probabilidade de ações violentas”, sem especificar o estado.
Em outros trechos do documento, o serviço de inteligência aponta onde e por que deverá ocorrer determinado evento. Mas o quebra pau visto nas ruas de São Bernardo e Rio de Janeiro passou ao largo do GSI, que citou as promessas de protestos para ontem e hoje em Brasília.
A respeito de Copa das Confederaçõese e dos protestos, o relatório do GSI declarou estado de alerta (o segundo numa escala de 1 a 4), mas resumiu a situação sem revelar a verdadeira dimensão do que ocorreria à noite.
Dizia o documento de ontem sobre a competição: “BA / CE / DF / MG / PE / RJ: mantém-se previsão de mobilização, protestos e ataques cibernéticos para hoje nas referidas sedes da Copa e nos dias de jogos. Tendência de concentração de atos nas áreas mais próximas dos estádios. Em Fortaleza, situação pode ser agravada, pois há risco de paralisação de rodoviários”.
Horas mais tarde, Rio de Janeiro, São Bernardo e Fortaleza voltaram a presenciar verdadeiras batalhas campais. No caso da capital cearense, o documento do GSI, de fato, antecipou o endereço da manifestação, mas não a intensidade dos confrontos.