Em 2002, o publicitário baiano Duda Mendonça gostou do que viu e quis saber quem era o responsável por uma propaganda que passava na TV. Foi atrás do diretor da peça e o convidou para se juntar à pré-campanha de Lula ao Palácio do Planalto. Foi ali que o argentino Pablo Nobel iniciou sua carreira em campanhas eleitorais. Desde então, ele participou de oito disputas presidenciais, no Brasil, Argentina e Angola, trabalhando também com João Santana e Paulo Vasconcelos.
Na sexta-feira passada, o ex-juiz Sergio Moro, do Podemos, bateu o martelo e escolheu Nobel como o marqueteiro que vai cuidar da sua campanha à Presidência.
“Acho que bateu muito com o que ele tava imaginando, procurando, com o que eu tenho como experiência para oferecer”, contou Nobel ao Radar.
Com Mendonça, morto no ano passado, o argentino radicado no Brasil há 40 anos conta que fez campanhas para Marta Suplicy, José Genoíno e Aloizio Mercadante. “Fiz PT muito tempo com eles”, comentou.
Na sequência, ele se juntou ao também baiano João Santana, que foi o responsável pelas campanhas de Lula em 2006 e pelas de Dilma Rousseff, em 2010 e 2014 — mas não nesses trabalhos. Na sua Argentina, integrou a equipe do candidato à Presidência Eduardo Duhalde.
Por coincidência, Santana foi condenado por Moro na Lava Jato, assim com o ex-presidente petista. Hoje, Santana trabalha para o PDT e o presidenciável Ciro Gomes.
“O João e o Duda inventaram a comunicação política como a gente a conhece hoje aqui. Foi uma puta escola”, disse o argentino.
Nobel trabalhou ainda com Paulo Vasconcelos na campanha de Aécio Neves, em 2014. E, nas últimas eleições, integrou a equipe de Geraldo Alckmin.
“Da minha geração, quem não trabalhou com Paulo Vasconcelos, com Duda Mendonça ou João Santana não teve oportunidade de participar dos projetos mais bacanas, mais desafiadores. Eles os três nomes mais formativos hoje”, analisou.
Fora do Brasil, atuou nas campanhas de José Eduardo dos Santos para a Presidência de Angola, de Daniel Scioli, que perdeu no segundo turno para Maurício Macri, na Argentina, e como consultor de Alberto Fernández, o vencedor do pleito de 2019.
Aos 56 anos, Nobel se estabeleceu há três em Lisboa, e viaja para fazer campanhas. Ele chegou em São Paulo no fim de 2021 para fazer alguns contatos a acabou ficando depois de fechar com Moro. Para o novo cliente, o marqueteiro diz que vai fazer um trabalho principalmente técnico.
“Acho que acabou um pouco a geração dos grandes mágicos intuitivos da comunicação política no mundo. E o trabalho se tornou bastante científico. Hoje todos trabalhamos muito com dados, com pesquisas, com algoritmos, com o entendimento de nichos. Tudo isso é a nossa matéria-prima hoje, basicamente. Então é muito menos intuitivo e muito mais estudo”, explicou.
Já está mergulhado na formação de equipe e tudo o que implica o trabalho de pré-campanha, ele está dedicado a fazer um diagnóstico da candidatura de Moro e propor soluções de comunicação. “A verdade é que é muito mais isso do que outras coisas. Não são ideias mirabolantes. É entender o contexto, muitas vezes, mais que outras coisas”.
O primeiro passo, diz, será apresentar Moro não apenas como o juiz que ele é conhecido, mas como candidato. “Então, sem entrar em detalhes um pouco mais estratégicos que eu não posso compartilhar, em grandes traços o que muda é trabalhar a persona pública de outro ponto de vista. Porque agora tem outros objetivos”, declarou Nobel ao Radar.