Quebra-quebra contra civis no DF é mais um tiro no pé do bolsonarismo
Isolado no Alvorada, Jair Bolsonaro será cobrado por aliados nesta terça a condenar os ataques e a baderna de seus apoiadores
Jair Bolsonaro perdeu a eleição para Lula, mas saiu com um contingente eleitoral superior ao conquistado em 2018, quando venceu Fernando Haddad. Gostando-se ou não dos métodos bolsonaristas, ele foi a opção de mais de 58 milhões de brasileiros.
Derrotado, o que fez Bolsonaro desde então? Abandonou o trabalho no Planalto, isolou-se no Palácio da Alvorada e passou a flertar com apoiadores radicais que sonhavam com um golpe militar no país. Abandonou a política e milhões de eleitores que rejeitaram Lula, mas não concordam com os métodos violentos do bolsonarismo.
Valdemar Costa Neto e aliados moderados do presidente torciam para que Bolsonaro resolvesse fazer política, ocupando o papel de líder de uma oposição que teria condições de causar dificuldades ao governo petista no Congresso. O jogo se daria no campo das ideias, como em toda democracia. Bolsonaro escolheu falar para o grupo de manifestantes radicais que decidiu passar as férias de fim de ano na frente do QG do Exército, em Brasília.
Depois de provocar danos ao país — e a muitos eleitores bolsonaristas — com o fechamento de estradas, os seguidores do presidente decidiram promover um quebra-quebra na região central de Brasília, onde estão o hotel de Lula, de seus apoiadores, mas não só.
A região também abriga os escritórios dos partidos políticos, incluindo o PL do próprio Bolsonaro. Costa Neto, por ironia desses tempos estranhos, chegou a Brasília na noite desta segunda, quando a baderna já estava em curso na região que também abriga os prédios de deputados federais e endereços residenciais de dirigentes partidários.
Os carros incendiados interromperam a jornada de volta para a casa de muitos trabalhadores. A baderna sitiou funcionários e frequentadores de um shopping inteiro na região. Prédios comerciais e hoteis lotados também tiveram sua rotina modificada por causa da ação dos vândalos.
Bolsonaro venceu Lula no Distrito Federal. Não deixa de ser irônico que seus apoiadores, sob o silêncio conivente do Planalto, escolham a capital federal para promover atos de violência contra a população. Nesta terça, aliados do presidente no meio político vão conversar com o mandatário em despedida para que ele condene os atos e mande seus apoiadores para casa. O próprio Flávio Bolsonaro, que vinha tentando puxar o pai para o lado da razão, será cobrado.
A reação desta segunda, segundo um deputado eleito e aliado de primeira hora de Bolsonaro, foi uma resposta imediata ao discurso de Alexandre de Moraes. Na diplomação de Lula, além de condenar os métodos bolsonaristas adotados durante todo o mandato do capitão, o chefe do TSE avisou que todos os envolvidos com as milícias de fake news já foram identificados e serão punidos.