Pregando no deserto, Queiroga volta à CPI para ouvir por Bolsonaro
Copa América, boicote de Bolsonaro a ações da Saúde, atraso nas vacinas e a queda de Luana Araújo serão temas explorados pelos senadores
Espécie de pastor de ovelhas no deserto negacionista do governo de Jair Bolsonaro, Marcelo Queiroga sentará novamente na cadeira elétrica da CPI da Pandemia nesta terça-feira para explicar uma aberração desses tempos.
Como pode, numa pandemia que já matou quase 500.000 brasileiros, o ministro da Saúde apontar para um lado (uso de máscara, distanciamento social e medidas de restrição contra a terceira onda) e o presidente da República, chefe dele, apontar para outro completamente diferente. Do gabinete paralelo aos passeios sem máscara e com aglomerações, Bolsonaro coleciona atos de boicote a medidas do seu próprio governo.
Nessa evidente lógica em que o auxiliar é boicotado pelo chefe, Queiroga terá que falar da Copa América, o torneio que o Planalto decidiu abrigar no Brasil no momento em que o ministro alertava publicamente para o risco de uma terceira onda de mortes, com boa parte dos hospitais do país lotada por pacientes com coronavírus.
No caso das vacinas contra o coronavírus, a diferença entre o que Queiroga prometeu entregar e o que de fato chegou aos estados também será lembrada pelos senadores. Até o momento, foram entregues pouco mais de 100 milhões de doses de imunizantes aos estados.
O número anunciado ainda por Eduardo Pazuello no início do ano era de 170 milhões de doses. Dos tempos de Pazuello virá também a cobrança sobre o tal gabinete paralelo, o ajuntamento de negacionistas em torno de Bolsonaro, motivados a incentivar tudo, menos a vacina e o distanciamento social.
As razões para o veto ao nome de Luana Araújo na Secretaria de Combate à Pandemia também serão cobradas de Queiroga. A médica infectologista passou como um furacão na CPI na semana passada, desmontando o negacionismo governista na pandemia. Questionada sobre sua saída tão repentina do cargo para o qual fora anunciada, ela disse que só Queiroga poderia explicar.
Com toda essa fila de questões a explorar, ainda sobrará tempo, dizem os senadores, para votar pedidos de quebra de sigilo de bolsonaristas. Os senadores querem, por exemplo, derrubar os sigilos telefônico e telemático de Carlos Bolsonaro, Eduardo Pazuello, Markinhos Show, Carlos Wizard, Fabio Wajngarten, Ernesto Araujo, Filipe Martins e Mayra Pinheiro.
Será um longo dia.