A Polícia Federal deflagrou nesta quarta operação para cumprir 29 mandados expedidos pelo Supremo Tribunal Federal no inquérito das fake news, que investiga ameaças a ministros da Corte e que ontem mandou a PF interrogar o ministro da Educação, Abraham Weintraub.
As ordens judiciais, expedidas pelo ministro Alexandre de Moraes, são cumpridas no Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina.
No início do mês, o Radar mostrou que as investigações em curso no Supremo tratavam, na maioria dos casos levados à Procuradoria-Geral da República, de aloprados bolsonaristas que haviam ameaçado ministros e seus familiares a partir das redes sociais.
Até o início do mês, a Corte havia mandado à PGR doze inquéritos filhotes sobre o esquema. Com número incerto de alvos, nenhum dos casos envolvendo deputados ou senadores havia chegado à procuradoria.
ASSINE VEJA
Clique e AssineA investigação a cargo de Moraes não mira apenas aloprados ou autores de ataques ao STF, mas também a rede financiadora — formada por empresários simpáticos a Jair Bolsonaro — do esquema de fake news que passou a atacar as instituições no país.
Há pouco, o deputado Junio Amaral, um dos investigados em outro inquérito do STF por realização de atos golpistas, postou nas redes que o blogueiro Allan dos Santos é um dos alvos da operação. Nesta terça, ela chamou o relator do inquérito de “careca tirano” nas redes por ter mandado a PF interrogar Weintraub e estimulou seguidores bolsonaristas a também defenderem a prisão de ministros do STF.
PF está na casa do @allantercalivre e em outros endereços cumprindo ordens de busca e apreensão do inquérito inconstitucional que corre no STF. O crime? "Ofensas" à corte!
— Junio Amaral (@cabojunioamaral) May 27, 2020
Segundo a Folha, o ex-deputado Roberto Jefferson, que defendeu um golpe militar recentemente, dizendo que a toga não é mais forte do que fuzil, também é alvo de buscas no Rio, assim como, segundo o G1, o deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP).
Recentemente, VEJA mostrou que um dos fatores que levaram Sergio Moro a se demitir do governo foi a pressão de Jair Bolsonaro sobre a investigação das fake news que aponta para a participação do vereador Carlos Bolsonaro em um esquema de ataques virtuais a autoridades.
Bolsonaro teria recebido informações de que o inquérito sigiloso que apura fake news e ofensas contra autoridades, tocado por Moraes, obteve indícios contundentes do envolvimento do vereador Carlos, o filho Zero Dois e apontado como criador do chamado gabinete do ódio — um grupo que usaria as dependências do Palácio do Planalto para promover campanhas virtuais contra adversários do governo. Mais que isso: os investigadores colheram elementos sugerindo que essas são financiadas por empresários ligados ao presidente.
“A água está subindo”, disse o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, para Moro, se referindo ao inquérito, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, mas que tem na linha de frente um delegado da Polícia Federal, responsável pela parte operacional como levantamento de dados, quebra de sigilos telemáticos e bancários.