Em meio à enchente de maio, a diferença do nível da água da Zona Norte de Porto Alegre chegou a cerca de três metros, em relação a Zona Sul da capital gaúcha. O dado foi descoberto em pesquisa em parceria da autoridade portuária Porto RS e o Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, por meio do Programa de Gestão Ambiental.
“A gente sabe que o nível da água não vai ser o mesmo, mas nunca ninguém imaginou que essa inclinação fosse tão grande que chegasse na ordem de três metros entre Norte e Sul. Isso só ficou claro agora”, diz a cientista da UFRGS, Tatiana Silva.
A descoberta foi alcançada em uma ida de pesquisadores a campo. Após a régua oficial ser danificada pela força da água e precisou ser realocada, notou-se uma diferença significativa no nível da água. Os cientistas, então, analisaram registros e compararam sensores remotos e imagens de satélite e notaram uma diferença, que não é linear, mas pode chegar a três metros.
A variação é explicada pela confluência dos rios Jacuí e Guaíba, que passam por um canal pequeno, gerando um “empilhamento”, que reflete em um volume de água maior na região norte de Porto Alegre, o que explica o efeito devastador das cheias em bairros como Humaitá, onde fica a Arena do Grêmio, Sarandi e Anchieta, que abriga o Aeroporto.
“A partir desse resultado, a gente já chega a conclusões, por exemplo, a mais óbvia: a zona norte de Porto Alegre não vai ter o mesmo tratamento que a zona sul, as medidas são completamente diferentes”, explica Tatiana.
Medidas preventivas
Com base nesses dados, os cientistas fazem simulações para entender como mitigar os efeitos de uma eventual cheia.
“Uma das recomendações que foram feitas, seria dragar, aumentar esse fluxo para impedir esse processo de empilhamento que eu te falei, principalmente na região norte”
Os pesquisadores avaliam todo o sistema atingido, que corresponde a quase metade do Estado, para tentar verificar onde se consegue proteger novas inundações por um “serviço ecossistêmico” e onde medidas estruturais são necessárias, como a construção de diques, por exemplo.
“Quais são as áreas que a gente ainda tem que não são construídas, que poderiam ofertar um serviço que a gente chama serviço ecossistêmico de amortecimento da cheia? Para que a gente não pense no que seria uma medida assim absolutamente extrema: Ok, vamos canalizar tudo para aumentar as velocidades”.
Agora a pesquisa entra em um nível de refinamento capaz de verificar, por exemplo, em quais locais uma dragagem é possível. As condições do solo, por vezes, não permitem esse tipo de medida.
Entre as questões para serem respondidas, Tatiana também defende medidas que ficaram nítidas nesta cheia: “Temos agora a necessidade de ampliar a nossa rede de monitoramento”.
Nesta semana, após novas chuvas cidades do Rio Grande do Sul voltaram a registrar ruas alagadas por conta das enchentes dos rios.