“Não me derrotaram. Eu não tô preso”, diz Lula sobre fim da saidinha
O presidente defendeu seu veto ao projeto de lei, derrubado pelo Congresso no mês passado, e disse que sua decisão foi "muito moral", de quem tem caráter
Quase um mês depois de o Congresso derrubar o veto presidencial ao projeto de lei que restringe a saída temporária de presos do regime semiaberto, a chamada “saidinha”, Lula comentou nesta sexta-feira, 21, em entrevista à Rádio Meio, do Piauí, que os deputados e senadores não lhe “derrotaram” porque ele não está preso. O presidente também lembrou dos 580 dias que passou na cadeia.
“Não me derrotaram, não me derrotaram. Eu não estou preso, eu não quero sair. Mas derrotaram uma parte do povo brasileiro, e enfraqueceram a dignidade de muita gente nesse país”, declarou.
Ele foi questionado sobre a relação do governo com o Legislativo e mencionou a derrubada do veto, no dia 28 de junho, sem ser provocado especificamente sobre o tema.
“Foi uma decisão moral minha”
“Dizem que o Lula perdeu o veto da saidinha. Deixa eu te contar uma coisa: a decisão da saidinha foi uma decisão unipessoal, foi uma decisão moral minha, muito moral, porque eu sabia que todos os deputados queriam que eu não vetasse, que deixasse passar, porque vai ter eleições e é um tema delicado… Mas antes de ser presidente eu sou um ser humano, eu tenho formação política, eu tenho caráter, eu tenho um compromisso ideológico, eu tenho família”, afirmou Lula.
“E eu falei: como é que é possível numa sociedade democrática, em que a base da sociedade é a família, e o Estado prende um cidadão que cometeu um delito, e se o prendeu não é apenas para castigá-lo, é para recuperá-lo, e na hora que o cidadão sai para ver a sua família, que é uma das fontes de recuperação dele, é proibido? Como é que é proibido de um pai ver uma mãe, um filho ver uma mãe, um irmão ver um irmão, a mãe ver uma filha? Por que cometeu um delito? Vai pagar pelo delito e vai voltar ser uma pessoa livre outra vez”, complementou.
580 dias na prisão
O presidente disse ainda que queria que a família tivesse o direito de receber os presos e lembrou que nem todos teriam direito ao benefício, que não alcançaria quem tivesse praticado crime hediondo ou estupro, e sim “comportamento de pessoas que podem ser recuperadas”. “‘Ah, mas de vez em quando as pessoas fogem’. Mas é tão pequeno o percentual dos que não voltam que não compensa a gente destruir a possibilidade da família conversar com essa pessoa”, acrescentou.
“Eu fiquei preso 580 dias. Você não tem noção o que era o meu prazer quando eu recebia meus filhos para me ver. Agora você proibir uma família, mulher e filhos, de receber o marido porque ele cometeu um delito, você não está apostando na recuperação dele. E como eu acredito muito na base da sociedade democrática, que tem no seu alicerce principal a família, eu queria que as pessoas tivessem uma saidinha”, relatou Lula.