Nesta terça, o chefe do Incra, César Fernando Schiavon Aldrighi, demitiu o primo do chefe da Câmara, Arthur Lira, do comando da superintendência do órgão em Alagoas.
Aldrighi vingou o petismo e o ministro Alexandre Padilha, que vinha sofrendo publicamente com as críticas de Lira ao trabalho da articulação política do Planalto.
Wilson César de Lira Santos, o parante do chefe da Câmara, logo arrumará outra coisa para fazer. As relações entre Lira e o Planalto, no entanto, caminham para o distanciamento permanente.
Lira não é Lula, não confia no petismo e tem laços inquebrantáveis com Jair Bolsonaro e a direita no Parlamento. Em diferentes momentos, jogou com o governo atual porque era de seu interesse. Tirando isso, nunca deixou de empoderar a oposição.
Lula também não é Lira, não confia no alagoano e já fez questão de dar demonstrações públicas de que não teme o poder do chefe da Câmara em fim de mandato. Na semana passada, Lira praticamente demitiu Padilha da articulação política. Deixou claro que é seu “desafeto pessoal” e chamou o auxiliar presidencial de “incompetente”. Lula fez questão de mostrar que Lira não tem essa bola toda para tirar ministro no governo. “Só por teimosia, Padilha vai ficar muito tempo”, disse o petista.
“Demitir um ministro porque o presidente da Câmara não gosta dele seria o mesmo que transformar Lula em Jair Bolsonaro”, diz um aliado do petista na Casa.
Lula sabe que o tempo joga a seu favor e que, na Câmara, tudo se compra, até a traição de aliados a Lira. “O Arthur tem menos de oito meses de mandato. Lula, mais dois anos e meio. Quem tem mais expectativa de poder?”, questiona esse aliado.
Não deixa de ser um jogo de risco. É nesse território que Lira ensaia retaliar o governo travando a pauta no plenário, liberando a abertura de CPIs em série e encaminhando a votação de pautas que prejudiquem o plano financeiro do governo e que fortaleçam a oposição.
Ainda que o país já tenha visto esse filme com Dilma Rousseff e Eduardo Cunha, o momento agora é outro e os personagens, também. A única coisa que não muda é o resultado dessa disputa fisiológica de poder entre o chefe da Câmara e o do Planalto: quem perde é o país.