O almirante Bento Albuquerque sempre desempenhou um trabalho técnico no Ministério de Minas e Energia. Pressionado pelo centrão, que tentou derrubá-lo em diferentes momentos no governo de Jair Bolsonaro, o ex-ministro caiu justamente por não se render às pressões políticas para que manipulasse a política de preços da Petrobras. Apesar desse trabalho, Albuquerque foi descartado por Bolsonaro de forma humilhante em maio de 2022. O então presidente saiu pisando no auxiliar publicamente antes de divulgar sua decisão de exonerá-lo.
Diferentemente de outros militares que integraram o governo e saíram pela porta dos fundos da história, Albuquerque parecia ter rumado para a planície sem estragos em sua biografia. Afinal, teoricamente, sua demissão se deu por fazer o que era certo, não o que o presidente desejava.
O caso das joias sauditas, ao que tudo indica, muda essa situação. De militar respeitado, Albuquerque foi convertido a faz-tudo da ex-primeira-dama Michelle, ao atuar numa operação que tinha por produto final o contrabando de joias avaliadas em 16 milhões de reais, como revelou o Estadão. A situação do almirante não é simples. Ele diz que trouxe a encomenda saudita para Bolsonaro e Michelle, mas ex-casal presidencial agora diz que nada sabia da tal operação quando ela ocorreu.
Bento, que deu explicações divergentes para o caso, falará aos investigadores da Polícia Federal. Começa a escrever, portanto, um novo capítulo de sua biografia. É possível que o destinatário de um presente de 16 milhões de reais não saiba de sua existência? Ou que quem presenteou não tenha dito nada? O mimo é pouco para a fortuna do regime Saudita, claro, mas a conta não fecha. Há outras tantas perguntas sem resposta nesse caso. Albuquerque terá a oportunidade de esclarecer a história. Michelle e Bolsonaro mentem sobre as joias?
A fala de Albuquerque agora tem o peso da biografia que ele pode preservar. Almirante de esquadra, o carioca de 64 anos foi diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha e liderou o Programa de Desenvolvimento de Submarinos e o Programa Nuclear da instituição.
Iniciou a carreira militar em 1973. Foi oficial submarinista e comandou os submarinos Tamoio e Tonelero. Também liderou a Base de Submarinos “Almirante Castro e Silva” e a Força de Submarinos da Marinha. Exerceu os cargos de Chefe de Gabinete do Estado-Maior da Armada, chefe do Gabinete do Comandante da Marinha e foi comandante em Chefe da Esquadra.
Albuquerque fez pós-graduação em Ciências Políticas na Universidade de Brasília, MBA em Gestão Pública na Fundação Getúlio Vargas e MBA em Gestão Internacional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele passou por cursos militares da Escola de Guerra Naval e do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia da Escola Superior de Guerra, tornando-se doutor em Ciências Navais.
Depois de tanta caminhada, vale mesmo terminar a história como mula presidencial?
Em tempo, segue a versão divulgada pela assessoria de Bento sobre o caso: “Esclareço que o governo brasileiro tomou as medidas cabíveis e de praxe, como sempre ocorreu, em relação aos presentes institucionais ofertados à Representação Brasileira, integrada por Comitiva do Ministério de Minas e Energia, que participou de evento diplomático na Arábia Saudita, em outubro de 2021. Em função dos valores histórico, cultural e artístico dos itens, o Ministério encaminhou solicitação para que o acervo recebido tivesse o seu adequado destino legal.”