O fundo de pensão dos ferroviários, o Refer (Fundação Rede Ferroviária de Seguridade Social), está passando por mudanças no seu comando que podem significar o rompimento de práticas alvo de críticas dos servidores, como o nepotismo e ingerência política. Isso ocorre há anos, se não décadas.
Um grupo político ligado ao antigo PR, que voltou a se chamar PL, do ex-deputado Valdemar da Costa Neto, que ainda tem o controle do partido, e do também ex-parlamentar Paulo Feijó (PR-RJ), que cumpre prisão em casa condenado pelo STF no escândalo dos sanguessugas, controla o Refer.
Há uma lista de pelo menos nove empregados, em cargos como gerência e chefias, parentes de funcionários. São salários que variam de R$ 5 mil a R$ 15 mil. Tem filha de amigo de deputado, compadre de um ex-presidente da Refer que chegou a ser preso, esposa de ex-conselheiro.
Em maio de 2018, a Refer virou escândalo. A fundação foi alvo da Operação Fundo Perdido, que levou três dirigentes à prisão. Investimentos mal sucedidos teriam causado um prejuízo de R$ 320 milhões.
O momento é visto pelas patrocinadoras do fundo – que reúne funcionários da extinta RFFSA, CBTU, CPTM, Central, entre outras – como ímpar para arrumar a casa. Querem passar a borracha e vida nova. Sem nepotismo e politicagem.
No final de agosto, houve uma renovação de 50% dos 6 conselheiros, que assumiriam em setembro. O Conselho Deliberativo é o órgão gestor máximo. Essa nova composição do conselho deveria escolher a nova diretoria, formada por três pessoas. Só que não foi bem assim. O ainda velho conselho, que parte dele estava de saída, manteve a velha diretoria, cujo mandato é de quatro anos. O sindicato da categoria protestou.
A atual presidente do conselho, Renata Mary Vasconcelos, diante desse cenário, concedeu um mês de mandato provisório para esses diretores antigos e marcou para esta sexta reunião que deve reformular o comando do fundo.
O atual presidente da Refer, Manoel Geraldo Costa, foi uma indicação de Valdemar.
O Refer tem um patrimônio líquido de R$ 5,6 bilhões e cerca de 34 mil associados em todo o país.
Na operação da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e da Previc (responsável pelos fundos de pensão) do ano passado, três então diretores foram presos. Eles entraram na Justiça para que a Refer custeasse os honorários de seus advogados de defesa, mas o pedido foi negado. Respondem por gestão fraudulenta e formação de quadrilha.
OUTRO LADO
A Refer negou, por intermédio de sua assessoria de imprensa, interferência política na indicação de seus diretores. Informa que, após o afastamento da diretoria em maio de 2018, quando ocorreu a Operação Fundo Perdido, a nova direção foi escolhida por um processo seletivo.
A fundação informou ainda que a posse dos novos diretores, reconduzidos pelo conselho em agosto, será confirmado na reunião desta sexta.
Segue a íntegra a nota da Refer:
“Após o afastamento da diretoria anterior, em maio de 2018, o Conselho Deliberativo da Fundação REFER conduziu um processo seletivo, por meio de empresa de mercado, para recrutar três profissionais idôneos para a Diretoria Executiva. Não houve, portanto, nenhuma interferência política no recrutamento e seleção de diretores. Ao fim do mandato de complementação, encerrado em agosto de 2019, o Conselho reconduziu a atual Diretoria para um novo mandato de quatro anos. Após a revalidação obrigatória dos dirigentes pela Previc, a posse dos diretores para o período de 2019 a 2023 deverá ocorrer hoje, durante a reunião do Conselho”.