Governo Lula completa dois meses sem agenda prioritária no Congresso
Falta de orientação do Planalto sobre temas importantes no Legislativo preocupa líderes da base do governo
Lula vai completar nesta semana dois meses de mandato. Naquele já distante 1º de janeiro, o presidente subiu a rampa do Planalto pregando a reconstrução do país e a retomada de temas importantes na pauta legislativa. O objetivo era cumprir as duas principais promessas eleitorais: fazer o país voltar a crescer e recolocar os pobres no orçamento.
O Carnaval se foi, muitos discursos foram feitos, ações emergenciais ganharam destaque — o socorro aos índios em Roraima e a tragédia no litoral de São Paulo –, mas a pauta prioritária do Planalto para o Congresso, um documento vital para o avanço da gestão e do país, ainda não chegou ao Parlamento.
Centralizador, Lula foi à Argentina, passou pelos Estados Unidos, meteu-se numa incompreensível briga com o Banco Central, mas até hoje não estabeleceu com seus líderes partidários e com os chefes do Parlamento — o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e o presidente da Câmara, Arthur Lira — uma agenda de prioridades, o tal do trabalho concreto mesmo.
No Parlamento, a expectativa é de que as conversas para organização da base em torno de temas ocorra a partir desta semana. “Tivemos um período de muitas falas para a sociedade. Foi importante, porque era preciso criar essa ponte. Agora, é preciso reconhecer, já passou da hora de o governo orientar a base para o trabalho”, diz um líder governista ao Radar.
Pelo menos na teoria, o governo trata como prioritário o plano apresentado por Fernando Haddad para promover uma juste nas contas públicas. No Parlamento, no entanto, há um clima confuso, dado que o próprio PT, que deveria fortalecer o ministro e liderar as discussões na Câmara e no Senado, atua para minar sua agenda junto ao Planalto.
O sentimento de urgência é evidente, dado que o atual governo prometeu muito, discursou bastante nas últimas semanas, mas pouco avançou na pauta do Parlamento — para se ter uma ideia, nem o conjunto de projetos prometido para responder aos ataques golpistas de 8 de janeiro chegaram aos líderes.
Responsável pela articulação política do Planalto com o Legislativo, o ministro Alexandre Padilha tem bom trânsito entre deputados e senadores e tem conversado com figuras do Parlamento. O problema, novamente, é o fato de tudo estar concentrado — e parado — nas mãos de Lula.