As altas recentes do botijão de gás atingem a população mais pobre justamente no momento em que a pandemia amplia as desigualdades sociais no país.
Só neste ano, de janeiro a julho passado, o preço do gás de cozinha, o GLP, aumentou 37,9%, segundo cálculos do Dieese pedidos pela FUP, a Federação Única dos Petroleiros.
Esse percentual refere-se ao preço cobrado pela Petrobras nas portas das refinarias. Ao consumidor final ainda incidem as margens de lucros de distribuidoras e impostos.
A FUP encomendou ao Dieese um estudo que deve ser divulgado nas próximas semanas com o impacto da alta dos combustíveis no orçamento das famílias e também da inflação.
A federação é contra a política comercial atual da Petrobras que acompanha as flutuações do preço do barril de petróleo no mercado internacional na hora de definir o preço dos combustíveis no mercado interno brasileiro. Também contribuem para esse aumento o movimento global de alta das commodities, a desvalorização do real em relação ao dólar e a retirada, em 2016, do subsídio que a Petrobras concedia ao GLP destinado ao consumo em botijão.
O governo de Jair Bolsonaro parece tratar o assunto sem a seriedade que o momento requer. Diversas reportagens já mostraram que os pobres estão voltando a usar lenha para cozinhar em substituição ao gás de botijão, que tem tido altas acima das taxas de inflação mensais.
No fim do mês passado, a Agência Nacional de Petróleo fez uma pesquisa que constatou que há lugares no país em que o botijão custa 100 reais a unidade.
Na sexta-feira passada, Bolsonaro disse em entrevista ao apresentador Ratinho, no SBT, que a Petrobras poderia dar um “vale-gás” no valor de 3 bilhões de reais aos mais pobres.
Nesta segunda-feira, 2, a estatal divulgou nota em que diz que “não há definição quanto à implementação e o montante de participação em eventuais programas” destinados a subsidiar a compra de gás pela população mais vulnerável.
A empresa explicou ainda que os 3 bilhões de reais mencionados por Bolsonaro referem-se a dividendos que a Petrobras distribuiu ao governo, seu acionista controlador, neste ano.
A própria estatal diz que qualquer decisão de subsidiar o preço do gás precisaria primeiro ser aprovada pelas áreas de governança da companhia.