Uma comissão de empregados da EBC divulgou nesta terça-feira um relatório que aponta que a empresa pública de comunicação vem sendo alvo de ingerência editorial e censura pelo governo de Jair Bolsonaro. Segundo o relatório, de agosto do ano passado até julho deste ano, ocorreram ao menos 228 casos de governismo e 64 episódios de censura.
Segundo os funcionários, os alvos preferenciais de censura são as reportagens sobre temas como direitos humanos, questões indígenas, conflitos no campo, ditadura e “qualquer assunto que exija posicionamento do governo”. “É recorrente a tática de derrubar matérias [jornalísticas] já prontas quando o órgão oficial não envia respostas à reportagem”, diz o relatório.
Na última sexta-feira, Bolsonaro disse em entrevista à Jovem Pan que abandonou a ideia inicial de seu governo de privatizar a EBC. A inspiração para a criação da empresa em 2007 foi a BBC que, apesar de ser uma estatal britânica, possui liberdade editorial para criar o seu noticiário sem necessariamente ser uma porta-voz do governo de ocasião.
Outra prática denunciada pelos funcionários da EBC é a de usar o trabalho dos jornalistas para a produção de notícias irrelevantes. No período analisado, foram mais de 200 denúncias do tipo. A ideia, segundo os funcionários, é “ocupar as equipes com a produção de reportagens e conteúdos sem importância para a sociedade e nem interesse público, de forma que os trabalhadores ficam sem tempo para tocar conteúdos de maior qualidade”.
Diz o relatório que os veículos da EBC levaram ao ar no último ano notícias como o dia do chocolate, o dia da batata frita e o dia do cuscuz, além do episódio de uma vaca vista em vídeo descendo um tobogã e a divulgação da areia sustentável da mineradora Vale.