O ex-ministro da Casa Civil e ex-deputado federal José Dirceu (PT) voltou nesta terça-feira ao Congresso Nacional, 18 anos e quatro meses depois de seu mandato na Câmara ser cassado em meio ao escândalo do mensalão, e discursou em uma sessão especial do Senado em celebração à democracia brasileira.
A data da sessão remete ao dia 2 de abril de 1964, quando o Congresso Nacional declarou vago o cargo de presidente do Brasil, até então ocupado por João Goulart, o Jango, deposto pela ditadura.
Além de Dirceu, compõem a mesa a viúva de Jango, Maria Thereza Fontella Goulart, e um de seus filhos, João Vicente Fontella Goulart, que é presidente-executivo do Instituto João Goulart; e a jornalista Mara Luquet, fundadora do canal MyNews.
O líder do governo Lula no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), que preside a sessão especial, classificou Dirceu como um dos principais responsáveis por sua formação política ao chamá-lo à tribuna.
“Com enorme honra, eu destaco e agradeço a presença nesta mesa deste companheiro que agradeço a Deus a possibilidade de na minha formação política ter sido um dos formadores nos melhores momentos do Partido dos Trabalhadores, meu querido José Dirceu de Oliveira e Silva, ex-deputado federal, militante político da resistência à ditadura entre os anos de 1960 e 1970. Zé, é uma honra para nós ter você conosco aqui nesta mesa”, disse Randolfe.
Ao abrir sua fala, Dirceu afirmou que quase não aceitou o convite do senador para participar da sessão. “Desde a madrugada de 1º de dezembro (de 2005), quando a Câmara dos Deputados cassou meu mandato, que o povo de São Paulo tinha me dado pela terceira vez, eu nunca mais voltei ao Congresso Nacional. Mas acredito que João Goulart merecia e merece a minha presença hoje aqui, Maria Thereza (Goulart)”, declarou Dirceu, na abertura de sua fala.
“Quero prestar essa homenagem a essa figura fantástica da nossa história que foi João Goulart. Vamos lembrar que João Goulart foi impedido de continuar no Ministério do Trabalho por causa do salário mínimo, e vamos lembrar que o nosso povo trabalhador, a nossa classe trabalhadora, votou no PTB, em sua maioria, de 46 a 64”, afirmou o petista.
E complementou: “Não é verdade que o golpe de 64 teve apoio popular. Tanto não é verdade que a ditadura perdeu as eleições para governador em Minas Gerais, no meu estado, com muita honra, e no Rio de Janeiro, depois de impugnar vários candidatos, porque a ditadura inventou o domicílio eleitoral e inelegibilidades, que não existiam no Brasil. Perdendo as eleições, acabou com as eleições e com os partidos, impôs a censura e a repressão. Mas o povo resistiu. Primeiro, os estudantes, depois os jornalistas, os intelectuais, os artistas, depois os trabalhadores, com as greves de Contagem e de Osasco como símbolo.”