Com tantos problemas no governo — corrupção, assédio sexual, inflação… —, passou despercebida nos últimos dias a guerra
instalada no Planalto por causa da OCDE.
O chanceler Carlos França foi bombardeado por colegas — a ala de ministros que trabalha pela entrada do Brasil no clube dos países ricos — por apoiar a parceria de Jair Bolsonaro com a Rússia, o que irrita os membros da organização e dificulta o acesso ao organismo.
Com o prolongamento da invasão russa na Ucrânia, as cartas dos países europeus e dos Estados Unidos condenando Vladimir Putin passaram a ser cada vez mais duras. Na hora de assinar, o Brasil, por orientação de França, costuma vacilar e defender uma tal “neutralidade” na questão.
Num entrevero recente, o governo só concordou em assinar uma carta condenando a guerra depois de o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, conversar com Bolsonaro. “França poderia ter feito esse papel, mas não queria assinar a carta”, diz um ministro. “O Leite foi que salvou o governo”, segue o mesmo auxiliar de Bolsonaro.
O Brasil quer entrar na OCDE e, ao mesmo tempo, obter fertilizantes e o diesel baratos da Rússia. “A chance de dar certo é zero”, diz um ministro, irritado com França e Bolsonaro.
Como não dá para se abraçar com inimigos da guerra e depois tirar vantagem econômica do conflito negociando com Putin, Bolsonaro terá de escolher. Por puro desespero eleitoral, auxiliares acreditam que ele poderá optar por sacrificar a entrada na OCDE.