Como Anderson Torres tentou boicotar a campanha de Lula na eleição
Segundo uma ex-auxiliar do então ministro da Justiça, ele usou falsas evidências para exigir mais de 70% dos agentes federais na rua no 2º turno
Anotações encontradas pela CPMI do 8 de Janeiro no celular de Marília Alencar, ex-diretora de Inteligência de Anderson Torres no governo Bolsonaro, mostram que o então chefe da Justiça e seus auxiliares, guiados por conteúdos falsos de redes sociais, acreditavam que o PT estava comprando votos para Lula no Nordeste.
Segundo Marília, Torres dizia em reuniões estar recebendo “muitos vídeos” sobre “milhões de reais em compra de votos” rodando “Brasil afora”. Não à toa, a ex-diretora escreveu que a visão de uma “relação” do partido de Lula com compra de votos estava “arraigada” no ministério. A própria admitiu, em suas notas, no entanto, que era tudo “fake news”.
Bolsonarista, Torres, diz a ex-diretora, exigiu dos chefes da PF e da PRF que colocassem mais de 70% do efetivo na rua, no segundo turno, contra Lula. “No final dessa reunião ele disse algo usando o número 22 em tom de brincadeira”, registrou Marília.
O então ministro chegou a tratar das eleições com superintendentes estaduais das duas polícias sem a participação dos diretores-gerais.
Por ordem de Torres, Alencar mostrou ao então chefe da PF, Márcio Nunes de Oliveira, um boletim de inteligência com “indicativos de muita compra de votos no Nordeste”.
De acordo com as anotações, Oliveira não cumpriu a determinação de policiar mais locais onde Lula ganhara no 1º turno. Torres reclamou de “corpo mole” e prometeu substituí-lo “numa eventual vitória” de Bolsonaro nas eleições.