Braga Netto tratou de vacinas indianas com embaixador em outubro de 2020
Informação consta em um telegrama reservado do Itamaraty sobre encontro entre o então ministro da Casa Civil e o diplomata Suresh Reddy
Quando ainda era chefe da Casa Civil, o general Walter Braga Netto aproveitou uma reunião no Palácio do Planalto com o embaixador da Índia no Brasil, Suresh Reddy, para falar que o Brasil ainda não havia recebido nenhuma proposta de venda de vacinas contra Covid-19 fabricadas no país asiático.
O encontro ocorreu no dia 13 de outubro do ano passado. As negociações para a aquisição da vacina indiana Covaxin começaram cinco semanas depois, em 20 de novembro.
A informação consta em um telegrama reservado do Itamaraty, enviado em 19 de outubro pelo Secretaria de Estado das Relações Exteriores à embaixada do Brasil em Nova Délhi.
O documento está em posse da CPI da Pandemia no Senado, que investiga o contrato para a compra de 20 milhões de doses da Covaxin por 1,6 bilhão de reais, e chamou a atenção de senadores por conta do interesse de Braga Netto, hoje titular do Ministério da Defesa.
A edição de VEJA desta semana revela que informantes da comissão revelaram que as pressões pela compra do imunizante vieram do Palácio do Planalto, e que a Casa Civil teria sido ponto de origem do suposto favorecimento por parte do governo à Precisa Medicamentos, empresa brasileira que intermediou o negócio junto ao laboratório indiano Bharat Biotech.
Nesta quarta-feira, por sinal, Braga Netto e os comandantes das Forças Armadas assinaram uma nota contra declarações do presidente da CPI, Omar Aziz, sobre o envolvimento de militares em casos de corrupção no governo.
A menção à fala sobre as vacinas aparece no item 4 do telegrama, após relatos sobre cooperação em defesa e possíveis exercícios militares conjuntos.
“Perguntado pelo ministro da casa Civil, o embaixador Reddy apresentou panorama da pandemia de COVID-19 na Índia. Disse que seu país deseja reforçar relações com o Brasil na área farmacêutica (em especial fornecimento de vacinas contra a COVID e medicamentos genéricos). Chamou atenção sobretudo para o diferencial indiano de preços nessa área”, relata o telegrama.
“O ministro Braga Netto observou que o Brasil não recebera proposta formal de venda de vacinas contra COVID-19 fabricadas na Índia. O embaixador Suresh Reddy confirmou essa informação mas referiu-se à intenção da Índia de fornecer vacinas para outros países (em conformidade com discurso do PM [Primeiro-ministro] Modi na abertura da 75ª AGNU [Assembleia Geral das Nações Unidas]”, prossegue.
O tópico se encerra informando que, sobre venda de medicamentos (nesse caso, para o SUS), “o ministro-chefe da Casa Civil sugeriu contatos com o Ministério da Saúde, em coordenação com o Itamaraty”.
Em postagem no Facebook no dia do encontro, a Embaixada da Índia em Brasília publicou uma foto do ministro e do embaixador e disse que os dois tiveram uma “discussão muito produtiva em áreas de interesse mútuo”.