Bolsonaro se queixou de ter o nome envolvido no caso Marielle, diz Heleno
Heleno não soube identificar que amigos e familiares o presidente desejava proteger no Rio
Chefe do GSI, o órgão que faz segurança de Jair Bolsonaro e de sua família na Presidência, o ministro Augusto Heleno disse, em seu longo depoimento, que Bolsonaro se queixava de ver seu nome envolvido no caso do assassinato da vereadora do PSOL Marielle Franco.
“Tem conhecimento de que o presidente cobrava maior desempenho da PF no Rio no combate à corrupção, inclusive envolvendo hospitais federais. Que nesse período o presidente havia se queixado sobre o envolvimento do nome dele no caso Marielle, notadamente em razão de um fato envolvendo um porteiro do condomínio onde ele reside”, disse Heleno, destacando que “o presidente havia se queixado sobre a demora da investigação sobre a situação envolvendo o porteiro do condomínio onde reside”.
Heleno disse que precisaria assistir novamente o vídeo da famosa reunião de 22 de abril para tentar identificar que “amigos e familiares” o presidente desejava proteger, o que confirma a fala de Bolsonaro no vídeo.
“O presidente fala em proteger seus familiares e amigos, e perguntado quem são esses familiares e amigos, o depoente respondeu eu precisaria assistir ao vídeo para poder responder”, registra o trecho do depoimento.
A defesa de Moro questionou Heleno se ele se recordava de ter ouvido Bolsonaro dizer a frase “não quero ser blindado, mas também não quero ser sacaneado”. O ministro disse que não se lembrava de tal fala.
Heleno admitiu que Bolsonaro disse que trocaria até o ministro, se não conseguisse trocar sua “segurança pessoal”, e que o termo se referia à Polícia Federal.
A defesa de Sergio Moro questionou o general sobre o fato de Alexandre Ramagem ter uma sala no Planalto, como diretor da Abin, o que foi confirmado pelo general. Ele foi questionado se Bolsonaro e Ramagem se reuniam rotineiramente, e também confirmou a relação intensa entre o presidente e o delegado. Heleno também foi perguntado se essa proximidade não havia feito surgir uma amizade entre Bolsonaro e Ramagem, no que respondeu que essa “amizade” já era antiga. “Essa amizade vem de antes (do governo), da época em que o presidente sofreu o atentado”, disse.
Para Heleno, a proximidade de Ramagem com o clã presidencial é coisa normal, por ter sido ele segurança de campanha do presidente e convivido com a família por muito tempo.
Heleno disse ter ouvido Bolsonaro dizer a Moro, em uma oportunidade, que precisava de alguém mais ativo no comando da PF. “Na visão do presidente, Ramagem daria um novo animo à PF”, disse o ministro.
Ele admitiu os desentendimentos entre Bolsonaro e Moro sobre a nomeação de Alexandre Ramagem para o comando da PF. Disse que o presidente tinha preocupação em oferecer a Maurício Valeixo uma posição no exterior, em reconhecimento ao seu trabalho, e afirmou que “nunca teve conhecimento de nenhuma missão específica que o presidente quisesse atribuir a Ramagem no comando da PF, seja no Rio, seja em Minas ou em qualquer estado, podendo apenas afirmar que o presidente tem uma grande admiração por Ramagem pelo fato de te-lo visto atuar na segurança pessoal e na direção da Abin”.
Questionado se Bolsonaro queria ter acesso a relatórios proibidos de inteligência e sobre sua declaração advertindo o presidente da impossibilidade desse tipo de repasse de informações, ele disse não se recordar: “O depoente não se recorda se a fala ‘esse tipo de relatório que o presidente quer, ele não pode receber’ aconteceu. Razão pela qual não sabe informar a que tipo de relatório se refere a frase que lhe foi atribuída pelo então ministro”.
“Bolsonaro cobrou de forma generalizada todos os ministros da área de inteligência. Tendo também reclamado da escassez de informações de inteligência que lhe eram repassadas para subsidiar suas decisões, fazendo citações específicas sobre sua segurança pessoal, sobre a Abin, sobre a PF e sobre o Ministério da Defesa”, disse Heleno.
O ministro reconheceu que Bolsonaro fez tais citações “na forma de cobranças duras dirigidas aos ministros na ocasião” da reunião citada por Sergio Moro no inquérito em curso no STF.
Bolsonaro estava insatisfeito com a velocidade das informações repassas pela PF pois, “muitas vezes, tomava conhecimento de informações pela imprensa e não oficialmente”.
ATUALIZAÇÃO, 22h10: A primeira versão desta matéria afirmava que Heleno disse que havia notado preocupação de uma suposta ligação entre o superintendente do Rio com governo do estado, de Wilson Witzel. Na verdade, Heleno se referiu à Superintendência de Pernambuco, chefiada por Carla Patrícia, que havia sido secretária do governo pernambucano. Pelo erro, o Radar pede desculpas.