Bolsonaro diz que marco temporal vai acabar com agronegócio no país
STF discute caso de desapropriação de terra indígena que pode virar jurisprudência para outros processos

O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quinta-feira a apoiadores em Brasília que o chamado “marco temporal”, discussão no STF que pode mudar o entendimento sobre a demarcação de terras indígenas, poderá “acabar” com o agronegócio no país.
Bolsonaro afirmou que caso haja decisão favorável aos povos originários, ele terá que ser obrigado a assinar a demarcação de uma grande área supostamente em detrimento de produtores rurais, hoje um de seus principais pontos de apoio.
“Se mudar o entendimento passado, de imediato nós vamos ter que demarcar, por força judicial, uma outra área equivalente à região sudeste como terra indígena. Acabou o agronegócio, simplesmente acabou. Vai embora Rondônia, Mato Grosso do Sul, Goiás, vai embora tudo”, disse o presidente.
A questão do marco voltou ao debate no STF durante o julgamento nesta semana de uma ação de reintegração de posse movida pelo governo de Santa Catarina contra povos da etnia Xokleng, da Terra Indígena Ibirama La-Klãnõ, onde também vivem índios Guarani e Kaingang.
A discussão principal e que pode virar jurisprudência para outros casos é se os indígenas têm direito a reivindicar terras somente nos locais em que eles já se encontravam fisicamente na data da promulgação da Constituição de 1988.
Os indígenas dizem que o marco temporal irá limitar seu direito a terras por questões de ancestralidade. Com a discussão no Supremo, mais de 30 processos de demarcação estão parados no país.
Bolsonaro nunca escondeu seu desprezo pelos povos originários e seu desejo de explorar economicamente territórios indígenas. “Não tem reserva indígena em cima de terra pobre, pessoal. Ali tem diamante, ouro, tem de tudo”, disse ele.
O presidente deu um jeito ainda de culpar Lula pelo protesto de seis mil indígenas em Brasília contra o marco temporal.
Ele os acusou de serem influenciados pelo “sapo barbudo”, apelido que Leonel Brizola deu a Lula em 1989. Ele fingiu narrar aos seus apoiadores argumentos dados pelos indígenas em entrevistas e fez questão de marcar o estereótipo do povo que articula primariamente as palavras em português.
“Os índios são uns coitados. Você vê eles sendo entrevistados e eles não sabem a que [vieram]. ‘Você tá contra o quê?’. ‘Contra o governo’. ‘O governo quer acabar com a gente’. Ai fala no nome do ‘sapo barbubo’. [Eles respondem que] ‘O sapo barbudo ajudou a gente’. ‘Ajudou o que?”. ‘Ajudou’”, disse Bolsonaro.