Mensagens de e-mail da Presidência da República entregues à CPMI do 8 de Janeiro mostram que os auxiliares de Jair Bolsonaro deviam consultá-lo, com antecedência, sobre a destinação de presentes recebidos pelo mandatário. Em ao menos uma ocasião, o então presidente autorizou que uma pessoa levasse objetos do acervo.
Em outras palavras, Bolsonaro controlava pessoalmente o que era feito com os itens que chegavam ao governo.
Uma orientação compartilhada pelos ajudantes de ordens dizia que “Renan” – possivelmente Jair Renan, filho de Bolsonaro – havia “selecionado” presentes do acervo em 7 de julho de 2022 e, com a autorização de Mauro Cid, “apanhado” os itens cinco dias depois.
Os auxiliares continuaram replicando, por três meses, a cada troca de turno, a orientação de que, quando “Renan” fosse “buscar presentes”, deveria informar a um funcionário da área de Documentação Histórica, que só o deixaria retirar os objetos depois de o então presidente autorizar.
Ajudantes de ordens voltaram a citar “Renan” na passagem de serviço (espécie de troca de turno) por e-mail ao replicar a informação de que, a pedido de Mauro Cid, a chave de um apartamento de Bolsonaro no Setor Sudoeste, em Brasília, havia sido entregue a “Renan” – desta vez identificando-o como “filho do PR”.
“PRESENTES RETIRADOS PELO RENAN: A Marjore da GADH (Gabinete Adjunto de Documentação Histórica) informou que, quando o Renan vier buscar presentes, ele deverá selecionar e informar quais quer levar. O GADH irá informar o Ch de Gabinete PR quais presente (sic) foram selecionados que despachará com o PR. Só depois de autorizado pelo PR o Renan poderá retirar os presente (sic)”, dizia a primeira orientação.
A destinação de presentes recebidos por Bolsonaro ganhou repercussão com a revelação, pelo Estadão, de um conjunto de joias dadas pela Arábia Saudita a uma comitiva brasileira e apreendidas pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos por falta de declaração dos itens. Outros dois kits de objetos preciosos vieram à tona desde então.
A correspondência eletrônica em posse da CPMI também contém e-mails em que Mauro Cid conversa em inglês com um interlocutor desconhecido sobre vender um Rolex “recebido de presente em uma viagem oficial de negócios” por 60 mil dólares.