Aliados reconhecem que Flávio Dino se distanciou da cadeira no STF
Ministro da Justiça já foi favorito para a vaga de Rosa Weber na Corte

Só Lula sabe quem será o próximo ministro do STF na vaga aberta com a aposentadoria de Rosa Weber. Essa constatação, no entanto, não impede que diferentes setores da base do governo atuem ferozmente para tentar influenciar o presidente em sua decisão.
Flávio Dino, não faz muito tempo, circulava por Brasília como virtual ministro do STF. Tinha apoio de integrantes da Corte e uma aparente simpatia de setores da esquerda. O chefe da Justiça começou a perder o favoritismo, na visão de interlocutores frequentes de Lula no mundo jurídico, quando “sentou na cadeira antes da hora”.
A entrevista em que pareceu falar como escolhido de Lula, anunciando que não voltaria para a política, caso fosse o indicado, atraiu para Dino o desgaste natural no meio político. “Se o presidente da República convida, é muito difícil dizer não. Vou estar desdenhando do STF, é descabido”, disse Dino.
Tamanho erro político virou munição aos adversários. Daí para frente, o ministro da Justiça não teve mais notícias positivas. Com perfil provocador, envolveu-se em toda sorte de duelos com parlamentares no Congresso. Nas redes sociais, parecia copiar os passos de deputados como André Janones, buscando entreveros com a oposição.
No Senado, o petista conquistou uma rejeição respeitável e até ameaçadora, em caso de indicação ao STF. Senadores derrubaram a escolha de Lula para a DPU e, em muitos casos, abertamente ligaram o feito ao risco de Dino ser o escolhido para o Supremo. Para piorar, adversários do ministro na esquerda desenterraram uma votação antiga, no Senado, em que o nome do irmão dele, um respeitado procurador da República, foi rejeitado para um cargo no CNMP no segundo governo Lula.
Internamente, Dino comprou muitas brigas com colegas de governo, ficando como vilão no Planalto em alguns embates, por exemplo, com Jorge Messias, o simpático advogado-geral da União. Enquanto Dino disputava espaço e poder no governo, seu ministério viu, parado, uma crise na segurança pública ganhar as atenções do país e provocar desgastes ao Planalto.
Adversários acusaram Dino de pensar demais na cadeira de Rosa Weber e menos nas obrigações da pasta que comanda, deixando o básico por ser feito. No episódio mais recente a reforçar essa ideia, revelado pelo Estadão, o ministro teve que explicar por que a mulher de um líder do Comando Vermelho foi recebida para reuniões no Ministério da Justiça.
Enfrentando forte artilharia de adversários dentro e fora do governo, o ministro perdeu capital político, apesar de ainda ser um importante auxiliar de Lula. “O ministro Dino era o favorito para a vaga, mas esse tempo passou”, diz um importante interlocutor do Planalto.
Qualquer nome escolhido por Lula para o STF deve ter, na avaliação de conselheiros do presidente e aliado de Dino, respeito na comunidade jurídica e baixo atrito político no Parlamento, para que a escolha de Lula não vire um Fla-Flu.
Dino já é um personagem político barulhento e não parece combinar com esse perfil. Sua indicação, diz um colega dele de governo, insuflaria o ambiente político no país e traria forte desgaste ao próprio presidente. Daí o otimismo dos adversários com as chances de Lula escolher Messias ou mesmo o chefe do TCU, Bruno Dantas. Ambos seguem discretos em suas funções.