Candidato à presidência em 2018, o empresário e ex-banqueiro João Amoêdo, cofundador do partido Novo, tem encontrado resistência por parte de opositores dentro da legenda que ajudou a constituir. Em entrevista ao Radar Econômico, Amoêdo afirmou que está sendo perseguido por mandatários do Novo desde que declarou voto no segundo turno ao ex-presidente Lula (PT), desagradando uma parcela de filiados mais inclinados ao atual presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). A Comissão de Ética Partidária do Novo suspendeu liminarmente Amoêdo na quinta-feira, 27, e abriu um processo para destituí-lo da sigla.
O ex-presidenciável disse estar surpreso com a decisão do partido, afirmou que irá se defender e prometeu levar o caso para outras esferas. “Pretendo entrar com uma ação na esfera jurídica para preservar os meus direitos como cidadão e como filiado do partido. Estou avaliando exatamente quais as ações, mas pretendo fazer isso também”, afirmou ele. Em uma votação com margem mínima, quatro votos a três, a Comissão de Ética do partido decidiu suspender Amoêdo. “Dos quatro membros da comissão que endossaram esse pedido contra mim, três foram nomeados na última semana, o que é no mínimo suspeito.”
Cofundador do Novo, Amoêdo diz que não há possibilidade de expulsão por posicionamento político pelo estatuto do partido. “Eu conheço o estatuto do partido, até porque eu elaborei ele. Eles fizeram um manifesto para que eu me desfiliasse, e eu ignorei, porque não via sentido nisso. Eu trabalhei cinco anos para colocar o partido de pé e depois mais cinco para ajudar a ter elegibilidade”, diz ele. “Estou tendo o meu direito como cidadão cerceado. E o partido está passando uma mensagem para os demais filiados de que eles não estão livres para votar em quem quiserem, apesar de o partido ter soltado uma nota dizendo que os filiados poderiam votar conforme a consciência de cada um”.
Para ele, o partido tem se afastado dos verdadeiros ideais dos tempos de sua formação. “O partido está perdendo não só a identidade, como relevância no debate público. O resultado disso é ter elegido 40% da bancada que formou em 2018 no cenário nacional. Eu achei que esse resultado de 2022 fosse trazer um diagnóstico para uma correção de rumos, mas aparentemente vão continuar nesse caminho de perda de relevância e, consequentemente, de eleitores”, analisa, colocando em xeque o futuro do partido. “Hoje, a saúde financeira do partido é suportada pelos filiados e, com a diminuição desse contingente, meu receio é que o partido comece a usar dinheiro público”.
Para encerrar, Amoêdo disse que nem Lula nem Bolsonaro representam o projeto ideal de país na visão dele e que ainda se vê na vida pública no futuro. “Eu pretendo me engajar em algum projeto. Acho que nenhum desses dois candidatos me representam. Meu voto declarado no Lula é por entender que ele é um mal menor para o país.”