Acompanhei de perto, através das nossas pesquisas no Instituto Locomotiva, o avanço da bancarização da população de menor renda durante a pandemia. O Brasil, sempre admirado por ter um dos sistemas bancários mais modernos do mundo, contudo, foi por muito tempo um gigante excludente, com um sistema financeiro, digamos. Pouco democrático.
A grande mudança começou com a pandemia de Covid-19. Quando o Auxílio Emergencial foi criado para permitir que a população de menor renda conseguisse se manter financeiramente, a Caixa Econômica Federal exigiu que todos os aprovados abrissem uma conta digital. Em um piscar de olhos, milhares de brasileiros, que jamais possuíram uma conta bancária, foram inseridos no sistema.
Quase que simultaneamente, em Novembro de 2020, o Banco Central lançou o PIX, uma ferramenta que vem se mostrando fundamental na inclusão financeira e bancarização da população. Nos últimos dois anos e meio, o PIX se consolidou como o principal meio de pagamento, com o número de transações crescendo a cada dia.
Estudos recentes do Instituto Locomotiva mostram a magnitude dessa mudança: mais de 35 milhões de CPFs foram incluídos no sistema financeiro entre março de 2020 e abril de 2023. Agora, 98% dos brasileiros têm conta bancária, e 50% recebem ao menos parte de seus rendimentos via PIX.
O impacto dessa inclusão foi especialmente notado nas classes C e D. O aumento da bancarização gerou um ciclo virtuoso na economia, fomentando o comércio local que começou a aceitar o PIX como forma de pagamento.
Mas ainda há desafios pela frente. Existe uma fatia de 2% da população que permanece à margem do sistema bancário, e mesmo entre os bancarizados, 17% não movimentam a conta com frequência. É imprescindível que os bancos avancem para oferecer crédito à população de baixa renda. Sem dúvida, o PIX desempenhou um papel crucial na bancarização de todos os brasileiros, estreitando a relação entre os bancos e as classes menos favorecidas, mas ainda é pouco.