O efeito Milton Ribeiro
Prisão de ex-ministro pode eliminar a bala de prata da campanha bolsonarista

Não cabe a este colunista fazer juízo de valor sobre a honestidade de ninguém. Nem condenar antecipadamente alguém antes do devido processo legal. Mas, como analista de opinião pública, tenho o dever de ofício de dizer que a prisão do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro deve provocar fortes turbulências na campanha de Jair Bolsonaro. Entre elas, fragilizar uma das principais balas de prata da campanha bolsonarista para alvejar a aceitação de Lula: a lembrança das denúncias de corrupção envolvendo o ex-presidente.
Como se sabe, a bandeira anticorrupção, turbinada pelo antipetismo, foi uma das principais responsáveis pela eleição do capitão em 2018. Bolsonaro, afinal, é o presidente que afirmou que a Lava Jato terminou porque “não tem mais corrupção no governo”.
Quem acompanha a cena nacional com alguma isenção já encontrava dificuldades para comprar essa retórica. Um governo marcado por escândalos envolvendo os filhos e a esposa do presidente, trocas constantes no comando da Polícia Federal, estrangulamento dos órgãos de fiscalização, abusos com o cartão corporativo, sigilos de um século, superfaturamento na compra de vacinas e, é claro, pelo “orçamento secreto”, não pode se vangloriar de ter eliminado a corrupção.
O caso Milton Ribeiro traz um ingrediente novo ao enredo: pela primeira vez, Bolsonaro é implicado diretamente em um esquema de corrupção e tráfico de influência. Ribeiro foi gravado afirmando sem rodeios que a intermediação de verbas do ministério por pastores da Assembleia de Deus era um “pedido especial do presidente da República”.
Ribeiro esteve à frente do MEC por quase dois anos. Sua prisão prejudica não apenas a imagem de Bolsonaro, como também uma de suas principais armas de campanha. O Instituto Locomotiva apurou que o tema da corrupção é o que mais prejudica a imagem de Lula. Em vídeos de campanha fictícios, usados para a pesquisa qualitativa, a cena do ex-presidente na condição de réu, sendo interrogado por Sérgio Moro, é a que mais provoca reações negativas dos eleitores. Bolsonaro, por sua vez, sofre mais com sua postura diante da pandemia e sua inabilidade na condução da economia.
Ou seja: se a pecha de corrupto colar em Bolsonaro, o ex-capitão perde seu principal talking point durante a campanha eleitoral. O caso Milton Ribeiro tem o potencial de sacramentar o entendimento (já diagnosticado por várias pesquisas) de que a percepção de honestidade está longe de ser um diferenciador das candidaturas. Se, na percepção do eleitor, nenhum dos dois é honesto, resta a pergunta. “A minha vida está melhor no governo Bolsonaro do que era no governo Lula?”
Aguardemos os próximos capítulos.
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