A morte de uma professora de 71 anos esfaqueada por um estudante do ensino médio da rede pública do Estado de São Paulo no último dia 27 de março chocou o país e reviveu a memória de tragédias semelhantes nos últimos anos, como os ataques ocorridos em uma escola em Aracruz (ES), em 2022, e no bairro de Realengo, no Rio de Janeiro, há 12 anos. Se a sociedade não se mobilizar, há risco de que este não seja o último episódio do tipo. Os motivos para isso estão, em grande medida, nos lamentáveis níveis de violência física e psicológica presentes nas escolas, sobretudo as das periferias, como revelou a recente pesquisa do Instituto Locomotiva em conjunto com o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).
O cenário nos obriga a pensar na necessidade urgente de mobilizar familiares, alunos, professores e órgãos públicos por uma cultura de paz no ambiente escolar. Concluído antes do assassinato, o levantamento do Instituto Locomotiva com a Apeoesp ouviu 1.250 alunos, 1.250 familiares e 1.100 professores do Estado. O cenário revelado é preocupante. Os níveis de violência nas escolas não só estão alarmantes, com 48% dos alunos relatando ter sofrido algum tipo de violência, como são maiores nas unidades de ensino localizadas na periferia.
Na média, estudantes (69%), seus familiares (75%) e professores (68%) enxergam como média ou alta a violência nas escolas estaduais de São Paulo sendo que, nas periferias, essa percepção é maior para todos os grupos pesquisados. A maior diferença de percepção está entre os professores. 39% dos docentes das regiões centrais das cidades paulistas considera a violência no ambiente escolar como média ou alta, enquanto que, na periferia, essa percepção chega a 89% dos professores.
Os dados ainda mostram que, na média, 41% dos estudantes e 24% dos professores não se sentem seguros no entorno das escolas. Quando considerados apenas os estudantes de regiões periféricas as porcentagens dos que se sentem inseguros chegam a 54% dos estudantes e 31% dos alunos.
Diante deste cenário, fica a pergunta: o que fazer? Reforçar a presença policial e mesmo militarizar escolas são algumas das respostas fáceis e, aparentemente, mais rápidas que alguns políticos defendem. O problema, porém, é mais complexo. Para quase todos os estudantes (95%), professores (91%) e familiares (95%) ouvidos pela pesquisa os problemas de saúde mental se agravaram no ambiente escolar após a pandemia.
Estamos falando de ansiedade, depressão e mesmo esgotamento de profissionais e alunos que convivem diariamente. É óbvio, mas não custa afirmar, que nenhum destes problemas se resolve com homens fardados ou mais viaturas no entorno das escolas. O que necessitamos, e isso vale não só para os estudantes paulistas, é criar um ambiente acolhedor e de paz na rede de ensino pública.
Claro que é importante garantir medidas de segurança, inclusive com uso de tecnologias como câmeras quando possível, afinal de contas os alunos também não podem ter medo do entorno do local onde estudam. Mas sem uma rede de apoio presente, com psicólogos e outros profissionais de educação, dificilmente conseguiremos desarmar os ânimos e o clima conflagrado em que alguns alunos e professores vivem. Que saibamos usar as lições de mais uma tragédia para olhar com mais atenção para essa necessidade e a importância de estimular um ambiente de paz nas escolas. Isso vale para professores, alunos, familiares, para este autor e também para você leitor.