Todo mundo que cresceu em uma cidade provavelmente tem em sua memória algum mercadinho de bairro. Aquela loja que vende um pouco de todos os tipos de miudezas e comidas, de um proprietário ou proprietária geralmente conhecido na vizinhança e que é essencial para abastecer a comunidade local. Seja na capital ou no interior, os pequenos comércios familiares são uma realidade que resiste em milhares de municípios pelo país e dizem muito da economia e construção dos laços sociais no meio urbano.
Foi para compreender esse segmento que se faz presente no dia a dia de milhões de brasileiros que o Instituto Locomotiva realizou uma pesquisa inédita em parceria com o Compra Agora, plataforma pioneira em B2B do Brasil focada no varejista brasileiro, para compreender a realidade desses pequenos comerciantes, seus receios, angústias e perspectivas para o país.
Os resultados trazem dados animadores e um panorama dos problemas destes empreendedores que o setor público e o mercado precisam ficar atentos. Nada menos que 88% desses varejistas estão otimistas e acreditam que o desempenho do seu comércio vai melhorar nos próximos 12 meses.
Em relação ao ano passado, 75% avaliam que o negócio teve um bom desempenho, 21% afirmam que ficou igual e 4%, que piorou. Quando os dados de percepção são cruzados com o de expectativa, a maioria segue confiante, com 72% afirmando que o negócio melhorou e vai melhorar. Na outra ponta, somente 8% afirmam que a situação não melhorou e vai piorar. Entre os mais jovens de 18 a 29 anos, o otimismo é maior ainda, 82% acreditam que o negócio melhorou e vai melhorar.
Apesar das sinalizações positivas da pesquisa, o cenário para esses pequenos empresários está longe de ser tranquilo. 9 em cada 10 afirmam ter sempre uma preocupação tirando seu sono. Entre os temas mais citados estão as despesas (18%), gestão financeira (15%), concorrência (10%), precificação (7%), expansão (6%) e acesso a crédito (6%).
Questionados sobre os desafios financeiros, quase todos (98%) dos empreendedores reconhecem dificuldades. Entre as dificuldades financeiras mais citadas pelos entrevistados estão investir os ganhos no próprio negócio por conta própria (40%), separar as despesas do negócio das despesas pessoais (38%), precificar os produtos de forma adequada (37%) e conseguir crédito e empréstimo (36%).
Em outras palavras, são desafios que indicam quais são os medos, perspectivas e desejos desses empreendedores em relação ao negócio. Entender isso é crucial para que esse empreendedor deixe de ser apenas uma linha na planilha de CNPJs e se transforme em uma pessoa com desejos e inseguranças. Mais do que isso, os dados apontam que capacitação e crédito estão entre as principais demandas dos pequenos varejistas e são fundamentais para a sustentabilidade e crescimento desses negócios. O que indica o caminho para se pensar políticas públicas e melhorias do ambiente de negócios que poderiam envolver também o setor privado. Apostar na profissionalização destes empreendedores e conceder acesso a crédito levando em conta essa realidade é um caminho que esse colunista entende ser crucial.
Para além de memórias afetivas e laços sociais locais, pensar no futuro destes pequenos empreendedores é pensar no futuro de pais e mães de família que, ao fim do dia, estão buscando seu sustento e gerando valor para negócios que formam um traço da identidade de nossas cidades e até mesmo de nosso país. E isso, não é pouca coisa.